As corujas compõem uma ordem de aves conhecida cientificamente como Strigiformes.

Essa ordem se divide em duas famílias: Strigidae e Tytonidae.

Das quase 2.000 espécies de aves registradas no Brasil, apenas 23 são corujas, sendo a Suindara (Tyto alba) a única representante da família Tytonidae em nosso país.

A coruja como símbolos

Na Grécia Antiga, a coruja-pequena (Athene noctua), nativa de parte da Europa, África e Ásia era o símbolo da deusa da guerra e sabedoria, Atena.

O nome científico do gênero, Athene, é justamente uma referência à divindade grega.

No Brasil há uma espécie representante deste gênero: a coruja-buraqueira, Athene cunicularia.

A coruja também é simbolo da filosofia em referência a coruja de Minerva, uma deusa romana.

E utilizada na pedagogia como símbolo de sabedoria, embora não seja a representação oficial da pedagogia.

Pessoas do campo atribuem ao caburé o dom de dar boa sorte.

A curiosa face occipital dos caburés é interpretada pelos índios como tendo a ave quatro olhos, detectando assim qualquer perigo de imediato.

Fala-se também de “corujar” quando alguém faz plantão noturno.

Mau agouro?

As corujas são animais cercados por crenças e mitos.

O hábito noturno da maioria das espécies contribui muito para isso, pois a noite sempre foi considerada “misteriosa” por nós, animais diurnos.

Há povos e religiões que veem nas corujas divindades benéficas, símbolos de sabedoria e proteção.

Da mesma forma, outros creem que são aves de mau agouro.

Talvez sejam seus cantos e pios os principais responsáveis pela má fama em muitas regiões.

Afinal, os sons emitidos pelas corujas em nada lembram as melodias dos pássaros canoros, tão apreciadas pelos humanos.

A Suindara, por exemplo, é também conhecida como “rasga-mortalha”, devido a um forte grito que eventualmente emite durante o voo.

O fato, é que os sons emitidos pelas corujas nada têm a ver com premonições.

São na verdade uma forma de comunicação desses animais, que para nós pode parecer estranha.

Não podemos, portanto, deixar nossa falta de conhecimento acerca de uma espécie (seja uma coruja ou qualquer outro ser vivo) se transformar em intolerância e repúdio.

Ao invés disso, devemos buscar pesquisar mais sobre tais criaturas que nos intrigam, e assim conhecê-las melhor.

Este é um dos pré-requisitos para vivermos em harmonia com a biodiversidade que nos cerca.

Pescoço elástico

Acreditou há muito tempo que as corujas são capazes de virar a cabeça em 360 graus completos.

Isso na verdade não é verdade.

No entanto, eles podem girar 270 graus.

As corujas fixaram focos oculares, de modo que não podem mover os olhos.

Isso significa que, sem poder virar a cabeça para um grau tão extremo, eles teriam um campo de visão muito limitado.

corujas

Eles têm uma vértebra muito diferente e estrutura óssea no pescoço do que a maioria dos outros animais, incluindo humanos.

O pescoço tem artérias vertebradas e carótidas, que são muito frágeis e podem ser facilmente danificadas.

Em um humano, os buracos através da vértebra são apenas grandes o suficiente para a artéria.

Em uma coruja, os buracos são dez vezes maiores do que a artéria.

Aparentemente, o espaço proporciona almofadas de ar, o que ajuda a evitar danos por movimentos extremos.

Além disso, as duas vértebras inferiores não têm esses orifícios, o que parece permitir folga quando a coruja está girando sua cabeça, o que é outra maneira de proteger as artérias contra danos.

Outra característica única sobre o pescoço de uma coruja é que, à medida que os vasos se aproximam do cérebro, eles se ampliam.

Em quase todos os outros animais, os vasos diminuem de tamanho à medida que ficam cada vez mais longe do coração.

Isso porque girar a cabeça para 270 graus deve comprometer o suprimento de sangue.

A artéria maior quase faz um reservatório de sangue, de modo que o suprimento de sangue é contínuo.

Audição

Os laros são providos de cerdas ou vibrissas cuja base é cercada de células sensitivas, provavelmente gustativas (corpúsculos de Herbst).

Destaca-se um “disco facial” de penas (estudado sobretudo na suindara, v.Tytonidae) que desempenha importante papel de refletor sonoro: movendo-se sob a ação de dobras da pele, amplia o volume do som e facilita a localização da presa pelo ouvido.

O ouvido da coruja parece funcionar como um microfone de radar colocado no foco de uma parábola.

As penas que cobrem o ouvido têm uma estrutura rala peculiar, permitindo a penetração do som, organização existente em todas as aves.

corujas

A assimetria dos ouvidos externos, outra particularidade das corujas, parece colaborar na focalização, o lado esquerdo focaliza para baixo, o lado direito para cima.

A grande largura do crânio das corujas evoluiu também em função da audição aperfeiçoada.

As “orelhas de penas”, típicas para determinadas corujas e faltando em outras, não têm ligação nenhuma com o ouvido.

O ouvido interno ou labirinto das corujas é muito bem desenvolvido.

Algumas delas, entre as quais a Suindara, são capazes de apanhar um rato vivo em escuridão absoluta, guiadas unicamente pelo ouvido

A coruja localiza um animal em movimento apenas por intermédio de uma parte do amplo espectro de frequências que compõem o ruído produzido e sua habilidade em perceber sons extremamente fracos é talvez ainda mais importante do que o registro de frequências altas.

Consta que a Suindara reage sobretudo a frequências entre 3.000 e 9.000Hz.

A capacidade do ouvido das corujas parece para nós tão milagrosa como a eficiência do olfato de mamíferos macrosmáticos como os cães.

Família Tytonidae

São aves esbeltas, de “cara” comprida e disco facial em forma de coração.

Um representante dessa família é a Suindara (Tyto alba).

A fêmea maior é que macho.

As curiosidades dessas família está no comportamento de defesa.

Se as Suindaras se sentirem ameaçadas durante o dia, seus olhos desaparecem numa fenda longitudinal de penas.

Além de balançarem o corpo lateralmente, tentando “espantar” a ameaça.

E em casos em que estão acoadas sem poder fugir, jogam-se de barriga para cima, enfrentando o perigo com as poderosas garras que lançam para a frente.

Manifestações sonoras

Donas de um grito fortíssimo, “chraich” (“rasga-mortalha”), emitido frequentemente durante o voo.

Em períodos de acasalamento o som é emitido pelo casal.

A fêmea responde nos intervalos que o macho emite um ‘roncar’, igualzinho ao roncar do homem.

Um ruído semelhante é também proferido pelos filhotes.

Outro som emitido por corujas dessa família é um “tic” que lembra os ruídos produzidos por certos morcegos quando voam caçando.

Além disso, quando assustada de dia ou quando quer amedrontar, bufa fortemente podendo estalar com o bico como outras corujas.

Alimentação

Come principalmente pequenos vertebrados: roedores, marsupiais, morcegos, anfíbios, répteis e pequenas aves.

Um fato curioso é que, em situações de viveiro, quando uma coruja Suindara e um morcego “vampiro” (Desmodus) são postos juntos, estes atacaram as corujas, que deles não se aproveitaram como alimento.

Nas proximidades de habitações humanas caçam ratos à noite, com afinco e por isso também são chamadas de “ratoeira voadora”.

Tanto que, embora tenha metade do peso de um corujão (Bubo virginianus), consome a mesma quantidade de roedores ou até mais.

Estão, portanto, entre as aves mais “úteis” do mundo, no que se refere à economia do homem.

Reprodução

corujasSeus ovos são compridos, ovais e brancos.

Postos diretamente no substrato ou numa camada de pelotas em parte desagregadas.

Incubação de 30 a 34 dias, realizada predominantemente pela fêmea que é alimentada pelo macho.

O pai caça e a mãe alimenta os filhotes que podem ser de tamanho bem diverso.

Os maiores recebem ratinhos inteiros, os pequenos apenas pedacinhos.

Filhotes crescidos podem ajudar na alimentação de irmãos pequenos mas chegam a devorar os últimos quando falta alimento.

Os filhotes abandonam o ninho com aproximadamente dois meses de idade.

Mesmo em clima ameno reproduzem durante quase todo o ano, desde que haja fartura de alimentação.

Habitat

Prefere nidificar em sótãos de casas velhas, forros e torres de igrejas, pombais e grutas; de dia dorme, às vezes em palmeiras.

Por isso o popular nome de coruja de igreja.

Família Strigidae

São representados por corujas, mochos e caburés.

O tamanho varia consideravelmente.

Têm voo silencioso e uma adaptação à vida crepuscular-noturna.

Têm uma estrutura de penas a qual elimina componentes ultra-sônicos que tanto poderiam trair a coruja em suas caçadas como atrapalhar a orientação acústica da própria ave.

Manifestações sonoras

É errôneo pensar que para aves noturnas, como corujas e bacuraus, a importância da comunicação acústica, tanto intraespecífica quanto interespecífica, seja maior do que para aves diurnas, concluindo da nossa incompetência visual no escuro.

O “canto”, emitido com frequência ou exclusivamente durante a reprodução, é para nós o melhor meio para a identificação específica.

Ambos os sexos cantam.

O casal de várias corujas, como por exemplo o Strix hylophila, canta em dueto ou diálogo e as estrofes diferem, até certo ponto, conforme o sexo;

A da fêmea pode ser um pouco diferente, mais alta e rouca.

A voz mais alta da fêmea (esta mais pesada que o macho) se explica pelo tamanho menor da siringe da fêmea.

Não abrem o bico quando gritam.

Uma vocalização singular é o “chocalhar” dos filhotes da buraqueira, um caso de mimetismo agressivo.

Isso significa que, os filhotes emitem barulhos que são muito parecidos com o guizo de uma cascavel, afastando assim possíveis predadores.

Já os filhotes de caburé (Glaucidium) emitem um “zisi, si, si”, lembrando o alarme do furnarídeo Lochmias.

Todas as corujas, mesmo os filhotes, estalam com o bico, batendo as mandíbulas.

Alimentação

Na alimentação dos representantes brasileiros predominam geralmente insetos (gafanhotos, besouros, baratas, etc.).

corujasEspécies de porte maior e mais possantes apanham roedores, marsupiais (gambás), morcegos (inclusive vampiros, registrados como alimento de Rhinoptynx), lagartos e rãs.

A maior atividade caçadora das espécies noturnas desenvolve-se no crepúsculo e no começo da noite, até aproximadamente às 21 horas.

A orientação das corujas costuma ser mais acústica do que visual, portanto a audição é fundamental para encontrar suas presas.

Um fato curioso é que, as corujas muitas vezes devoram a presa inteira, sem limpá-Ia.

Quando preparam uma ave, costumam cortar o bico e os pés, que não engolem.

Hábitos

A buraqueira e Asio jlammeue são diurnas, também Glaucidium até certo grau.

Na sua maioria as corujas são crepusculares tal qual os bacuraus.

Há registros de O. choliba se aproveitando da iluminação artificial para caçar besouros.

Um hábito curioso é que, as corujas gostam de tomar banho na chuva.

A buraqueira, no entanto, toma banho de poeira, corre com rapidez pelo chão.

Reprodução

Criam em ninhos abandonados de outras aves.

Rhinoptynx e Bubo põem às vezes no meio do capim, no solo.

 Ciccaba, Otus choliba e Glaucidium, em árvores ocas, o último também em buracos feitos por pica-paus.

No cerrado Otus choliba pode ocupar um cupinzeiro arbóreo furado por periquitos.

A buraqueira se instala em buracos no chão, é atraído por tocas de tatu e buracos na base de cupinzeiros terrícolas que o casal, se revezando, alarga.

corujas

Cava larga galeria mais ou menos horizontal, usando ambos os pés e (menos) o bico.

Forra a cavidade do ninho com esterco ou capim seco.

Asio fIammeus constrói o ninho no solo, aproveitando-se em primeiro plano do capim que cresce em torno do lugar escolhido.

Os ovos, frequentemente três, são quase redondos, cuja forma varia muito, até dentro da mesma postura.

A cor dos ovos é branca, embora os da buraqueira quando frescos, tenham urna leve tonalidade rosada.

A incubação da buraqueira é de 23 a 24 dias, a de Asio fIammeus 27 a 28 dias e a do corujão (Bubo) 4 semanas.

A fêmea costuma começar a chocar após ter posto o primeiro ovo, o que resulta em um tempo diferente da eclosão e tamanho bem diverso dos filhotes, diferenças ainda patentes quando a prole abandona o ninho, com 3 a 5 semanas.

Habitat

Sete dos onze gêneros que ocorrem no Brasil (Otus, Bubo, Glaucidium, Ciccaba, Strix, Asio e Aegolius) são encontrados também fora das Américas;

Certas espécies, corno Otus choliba e Rhinoptynx, vivem também dentro de cidades, desde que haja arborização suficiente (p. ex. certos bairros do Rio de Janeiro).

A buraqueira, espécie campestre, se aproveita do desmatamento, ocupou a área urbana.