Uma nova epidemia tomou conta dos noticiários nos últimos dias: a febre amarela.

A febre amarela (FA) é uma doença infecciosa aguda, viral, febril, não contagiosa, de curta duração (no máximo de 12 dias) e de gravidade variável.

Durante o século XX, vários fatores contribuíram para a diminuição da visibilidade da febre amarela, mas não da sua importância.

Entre eles, o desenvolvimento de uma vacina efetiva e a eliminação da febre amarela urbana nas Américas.

Estima-se que atualmente ocorram, anualmente, 200 mil casos e 30 mil mortes em todo o globo.

Seu agente etiológico é um arbovírus do gênero Flavivirus, família Flaviviridae.

Mesma família de outra grande preocupação epidemiológica, a dengue.

Mas se a febre amarela era uma doença controlada, sem grandes incidências de ocorrência nos últimos anos, por que está havendo um surto?

A resposta é simples: as pessoas deixaram de se vacinar!

Assim todas as pessoas não vacinadas e que se exponham às picadas dos transmissores em áreas de floresta, e em lugares onde esteja ocorrendo circulação do vírus (como outros países, por exemplo) podem vir a se infectar (se o mosquito estiver infectado) e adoecer pela febre amarela.

Ciclos de transmissão

A febre amarela é transmitida ao homem por meio da picada de mosquito infectado.

A doença tem caráter sazonal.

Ou seja, ocorre com maior frequência entre os meses de janeiro a abril, quando fatores ambientais propiciam o aumento da densidade vetorial.

O vírus da febre amarela mantém-se em dois ciclos básicos: um ciclo urbano e um silvestre.

No ciclo urbano (homem-mosquito) o Aedes aegypti é o responsável pela disseminação da doença.

Já no ciclo silvestre (complexo) várias espécies de mosquitos são responsáveis pela transmissão.

Particularidades do ciclo urbano

Neste ciclo, a transmissão pelo Aedes aegypti é feita diretamente ao homem sem necessitar da presença de hospedeiros amplificadores.

Ou melhor, o próprio homem infectado e em fase virêmica atua como amplificador e disseminador do vírus na população.

Em geral, também é o homem que introduz o vírus numa área urbana.

E uma vez introduzido o vírus no ambiente urbano, o paciente infectado desenvolverá viremia.

E com isso  servir de fonte de infecção a novos mosquitos Aedes aegypti.

Assim, o ciclo se perpetua, até que se esgotem os suscetíveis ou se realize vacinação em massa da população para bloquear a transmissão.

Particularidades do ciclo silvestres

O ciclo silvestre foi reconhecido na década de 1930.

Além de complexo persiste imperfeitamente compreendido e varia de acordo com a região onde ocorre.

O principal transmissor, no entanto, é o mosquito do gênero Haemagogus.

Este mosquito apresenta a maior distribuição geográfica conhecida entre as espécies desse gênero.

febre amarela

Os vetores da febre amarela apresentam atividade de picar predominantemente diurna.

Após um período que, em geral, varia de 9 a 12 dias de sua infecção, os mosquitos estão em condições de transmitir a doença.

O período de incubação nos seres humanos varia, em média de 3 a 6 dias após a picada do mosquito infectante, podendo chegar até 10 dias.

Sintomas da Febre Amarela

A febre amarela pode ser ocorrer desde formas sem sintomas até formas fulminantes.

Nessa última os sintomas clássicos de icterícia (tecido amarelado), albuminúria (albumina (proteína) dissolvida na urina) e hemorragias estão presentes.

E também causa infecções assintomáticas ou sub-clínicas que, junto com as formas leves da doença, somente são identificadas pelos exames laboratoriais específicos.

febre amarela

Diagnóstico

Exames específicos

O diagnóstico definitivo da febre amarela pode ser feito utilizando-se métodos virológicos.

Ou seja, pelo isolamento do vírus em cultura de tecidos.

Também por identificação de antígenos virais e do RNA viral.

E por métodos sorológicos, que consistem na dosagem de anticorpos específicos pelo método de IgM-ELISA que captura anticorpos IgM em ensaio enzimático ou conversão sorológica em testes de inibição da hemaglutinação.

Vale lembrar que a vacinação anti-amarílica também induz a formação de IgM.

E, por isso, importa conhecer os antecedentes vacinais do caso suspeito.

Exames inespecíficos

Diversos exames devem ser realizados durante a evolução do quadro de febre amarela.

No hemograma, nos primeiros dias da doença, há leucopenia com neutropenia e linfocitose, com valores de 3.000 a 4.000 células por cm³ de sangue.

Em alguns casos o leucograma exibe 1.000 a 2.000 leucócitos/cm³.

Em exames de urina se observa presença de bilirrubina e de hemácias.

Mas o que mais chama a atenção é a proteinúria.

Os valores de proteína podem chegar acima de 500 mg/100 ml de urina.

E a densidade medida na urina pode estar alterada.

Tratamento da febre amarela

Não há medicamento específico para o tratamento da doença.

Como os exames diagnósticos da febre amarela demoram em média até uma semana, o tratamento de apoio deve ser iniciado em caso de suspeita clínica dessa virose.

Recomenda-se o internamento do paciente com as formas graves em hospitais com boa infra-estrutura.

E, de preferência, possuidores de unidade de tratamento intensivo (UTI).

Pois há necessidade de uma série de procedimentos que só se dispõe nessas unidades.

O tratamento medicamentoso deve se voltar para o combate aos sintomas e os sinais manifestos da doença.

Portanto, a medicação a ser prescrita depende das manifestações clínicas.

Mas é comum o uso de analgésicos e antitérmicos nas doses usualmente indicadas para o peso e a idade.

Se contra-indica, entretanto, o uso de medicamentos que contenham em sua fórmula o ácido acetil-salicílico ou seus derivados pois eles podem agravar os fenômenos hemorrágicos.

Deve ser prescrito anti-emético para controlar os vômitos, em particular a metoclopramida.

E também medicamentos para proteger a mucosa gástrica (bloqueadores H2), tais como a cimetidina e a ranitidina ou o omeprazol.

Pois essas drogas mostram-se úteis para prevenir os sangramentos gástricos, uma das complicações da febre amarela.

Prevenção

A febre amarela faz parte da lista de doenças de notificação compulsória.

E como tal, qualquer caso suspeito deve ser imediatamente notificado à autoridade sanitária local, estadual ou nacional e esta notifica os organismos internacionais.

O método mais eficaz para se prevenir a febre amarela é a vacinação.

Atualmente, duas subcepas são usadas na produção de vacinas: 17DD no Brasil e 17D-204 no resto do mundo.

A diferença é que a 17DD tem 81 passagens a mais.

A OMS recomenda que sejam vacinadas todas as pessoas hígidas com mais de 6 meses de idade que residem nas áreas de risco ou que se dirijam a elas.

Uma única dose da vacina protege o indivíduo por pelo menos 10 anos, quando então é recomendada a aplicação de nova vacinação.

Abaixo de 6 meses há elevados riscos de desenvolvimento de encefalite pós vacinal.

Outro procedimento para prevenir a ocorrência da febre amarela é o combate aos vetores e o uso de medidas de proteção individual.

O combate aos vetores silvestres é inviável.

Resta então o combate ao vetor urbano, Aedes aegypti, que tem sido tentado desde o início do século com sucessos e fracassos.

Para saber mais sobre a febre amarela a Fio Cruz disponibiliza um e-book que pode ser acessado aqui.