Na língua portuguesa a palavra gênero apresenta inúmeros sentidos.
Depende do campo do conhecimento em cujo discurso se insere.
Em termos gerais, gênero significa o conjunto de seres ou objetos que possuem mesma origem.
Ou que se acham ligados pela similitude de uma ou mais particularidades.
Na biologia, o termo se refere à categoria taxonômica que agrupa espécies relacionadas filogeneticamente, distinguíveis das outras por características marcantes que permitem assim a subdivisão das famílias.
Na gramática, gênero se refere a classes de palavras que permitem estabelecer o contraste entre masculino e feminino.
Nem sempre referido a diferenças de sexo.
O gênero é também o principal conceito do campo de conhecimentos feminista, originário da sexologia.
Pode ser definido como a construção educacional, cultural, social e histórica de noções de masculinidade e feminilidade.
Opostas e dicotômicas, assimétricas e hierárquicas, com base na diferença sexual binária.
Essa construção está implicada em relações de poder, de dominação sexista/masculina e heterossexista, e afeta
Para as ciências sociais e humanas, o conceito de gênero se refere à construção social do sexo anatômico.
Ele foi criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social.
Baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana.
No entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura.
Assim, gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social.
E não decorrência da anatomia de seus corpos.
Na área da saúde o conceito de gênero retém algumas das características de sentido que a palavra tem tanto na biologia quanto na gramática.
Assim, ele é utilizado para marcar características próprias aos comportamentos de grupos de sujeitos sociais.
E para estabelecer o contraste entre masculino e feminino.
Mas, principalmente, para enfocar as relações que se estabelecem entre masculino e feminino no âmbito social.
E que apresentam repercussões para o estado de saúde e para o acesso e utilização dos serviços de saúde.
Definitivamente, gênero não é sinônimo de sexo.
Na biologia e na área médica, sexo é um marcador de diferenças biológicas entre indivíduos da espécie humana.
Diferenças essas relacionadas com aspectos anatômicos e fisiológicos do aparelho reprodutivo.
E eventualmente com características genéticas vinculadas aos cromossomos x ou y.
É muito comum atualmente utilizarem gênero como substituto para sexo.
Mesmo em situações nas quais o termo correto seria sexo, pois se está fazendo referência a características biológicas de homens e mulheres.
Nestes tempos do ‘politicamente correto’ parece que os médicos e pesquisadores em geral passaram a considerar de ‘bom tom’ não utilizar a palavra sexo.
O gênero é biológico?
O gênero não reflete nem produz diferenças físicas fixas e naturais entre mulheres e homens.
A nossa biologia – sejam os genes, a anatomia ou mesmo os hormônios – não seria capaz de explicar características tão variáveis de cultura a cultura.
E tão permeadas de sentidos e significados particulares a determinados contextos.
Isto é, não podemos esperar que um certo genótipo explique a preferência pela cor azul.
Ou que um conjunto de alelos leve ao interesse por bonecas em vez de dinossauros.
Esse argumento não retira a importância das disciplinas relacionadas à genética ou psicologia do comportamento.
Mas faz algumas ponderações às afirmações de caráter assertivo e generalizante.
O determinismo biológico não é o fator decisivo na construção de uma feminilidade ou masculinidade.
O aprendizado em torno de “ser homem” e “ser mulher” ocorre por meio de uma socialização de “papéis sexuais”.
Ou seja, os homens e as mulheres incorporam papéis pré-determinados na sociedade.
No senso comum, as diferenças de gênero são interpretadas como se fossem naturais, determinadas pelos corpos.
Mas essas diferenças são socialmente construídas.
Isto significa dizer que não há um padrão universal para comportamentos sexual ou de gênero que seja considerado normal, certo, superior ou, a priori, o melhor.
Somos nós, homens e mulheres, pertencentes a distintas sociedades.
A diversos tempos históricos e a contextos culturais que estabelecemos modos específicos de classificação e de convivência social.
Identidade de gênero, orientação sexual e sexo biológico
São termos que as pessoas confundem e tendem a achar que é a mesma coisa.
Mas não é.
Esse é assunto para outro post, mas de maneira resumida:
Para quem quiser ler mais sobre gênero e sexualidade recomendo este e-book.
Olá, Teresa Nunes. Estou realizando um projeto de feira de ciências e abordarei o tema transsexualidade, uma vez que é uma pauta social da qual, infelizmente, não se fala o suficiente. Após ler sua postagem, indaguei: se “a biologia jamais poderia explicar o gênero, enquanto construção social”, você acha que é incorreto afirmar, portanto, que identidade de gênero, apesar de relacionado à personalidade de alguém e esta ser influenciada tanto por fatores genéticos quanto ambientais, possui ligações biológicas?
Se, por outro lado, for uma afirmação coerente, de acordo com os seus conhecimentos, gostaria que citasse de que forma essa ligação ocorre, uma vez que sempre é destacada a não-relação entre órgão sexual e gênero.
Agradeço desde já pela sua atenção e resposta! Parabéns pelo site, foi de grande ajuda para mim e acredito que para outrem igualmente. Passar bem.
Olá Aleff,
A maioria das pessoas confundem sexo biológico (genitália) com gênero (condição). Eu acho que precisa ter um pouco de cuidado ao relacionar a identidade de gênero como uma variável apenas de personalidade. É bem mais complexo que isso, e ainda não exite um consenso sobre o que faz a pessoa não se identificar ou por que a pessoa não se identifica com o corpo/genitália biológica.
As discussões e estudos em torno da identidade de gênero são ainda muito recentes e por enquanto não nos dão elementos suficientes para afirmar que há algo de biológico como fator determinante, pelo contrário.
Estão colocadas mais no campo social e cultural do que no campo biológico, já que vem da necessidade de classificar, nomear a convivência social. Biologicamente há machos e fêmeas na espécie humana, mas a condição de ser homem ou ser mulher só é realizada pela cultura.
Olá teresa, eu sei que o gênero n vem inteiramente da questão biológica, mas creio eu que vc deve estar familiarizado com os estudos de milhões de gêmeos no mundo inteiro, que confirmar a ação dos genes em coisas simples da própria personalidade dos indivíduos, como preferencia alimentar, inclinação politica, religiosidade, saúde psicologia e até orientação sexual. Não estou dizendo que e 100% genético mas que a genética do individuo tem grande influencia nessas coisas que formam o individuou em si. Gostaria de saber sua opinião sobre isso, se há algum artigo que desconstrua as evidencias encontradas nessas pesquisas em gêmeos. Um link com um vídeo abordando esse assunto em questão, e também de onde eu tirei tais fontes, vai na caixa onde deve se preencher com um site.
FONTES: Plomin, Robert, John C. DeFries, Valerie S. Knopik, and Jenae M. Neiderhiser. “Top 10 replicated findings from behavioral genetics.” Perspectives on Psychological Science 11, no. 1 (2016): 3-23. https://goo.gl/HRi6AX
Polderman, Tinca JC, Beben Benyamin, Christiaan A. De Leeuw, Patrick F. Sullivan, Arjen Van Bochoven, Peter M. Visscher, and Danielle Posthuma. “Meta-analysis of the heritability of human traits based on fifty years of twin studies.” Nature genetics 47, no. 7 (2015): 702-709. https://goo.gl/RSefl6
Chabris, Christopher F., James J. Lee, David Cesarini, Daniel J. Benjamin, and David I. Laibson. “The fourth law of behavior genetics.” Current Directions in Psychological Science 24, no. 4 (2015): 304-312.
Sacerdote, Bruce. “Nature and nurture effects on children’s outcomes: What have we learned from studies of twins and adoptees.” Handbook of social economics 1 (2010): 1-30.
Harris, Judith Rich. “Where is the child’s environment? A group socialization theory of development.” Psychological review 102, no. 3 (1995): 458.
Olá Aleff,
Então, a maioria desses estudos com gêmeos sugerem que existem elementos no material genético que, em conjunto com o ambiente, podem determinar a orientação sexual da pessoa. Mas uma coisa é a orientação sexual outra é o gênero da pessoa. Anteriormente você perguntou sobre gênero e até então não há evidências suficientes de que a biologia ou a genética sejam um fator determinante. Além disso, não acho que seja um caminho eficaz para discutir gênero na escola, especialmente se for no ensino básico.
A e como vejo que vc ainda está ativa nesse post, gostaria de saber se é possível que você me passa-se algum tipo de contato, para que pudêssemos discutir esse assunto um pouco mais em tempo real, nosso prazo é meio curto então uma conversação seria o ideia para minha pessoa e os outros integrantes do meu grupo.
Você pode entrar em contato pelo e-mail [email protected] ou pelo face @pontobiologia
Olá Teresa!
Então, o que cabe de gênero no Ensino de Biologia?
Olá Valéria,
Cabe abordar as diferenças de gênero e comportamento sexual, a diversidade e educação sexual. Também cabe ser espaço de discussão sobre o assunto.
Obrigada!
eu vejo muito uma briga intena porque se isso é construção, um vai perder privilégios