Lamarck foi um pesquisador pouco consistente em seus métodos.
O que resultou uma obra heterogênea, tanto na abordagem quanto no valor científico.
Na biologia, termo que ele foi um dos primeiros a usar no sentido moderno, empregou os métodos empíricos consagrados pela ciência e adquiriu respeitável comando desses métodos.
Por cerca de uma década, investigou a flora francesa, e a registrou em um livro de 1788.
Esse trabalho o levou à Academia Francesa de Ciências.
Após isso, passou a investigar os moluscos da região de Paris, o que lhe rendeu grande reputação como taxonomista.
Por outro lado, manteve-se apegado aos métodos e princípios da alquimia.
Combateu a nova química de Lavoisier (1743 – 1794) e John Dalton (1766 – 1844).
Fundada no atomismo, na estequiometria e na conservação da massa, com o que obteve forte oposição, principalmente na ciência francesa.
Formulou também uma teoria, sem base em qualquer dado factual, de que a rotação da Terra gera uma contínua erosão da costa oriental dos continentes, produzindo matéria que se adere à costa ocidental.
O que resultaria um contínuo movimento dos continentes rumo ao oeste.
Até 1800, Lamarck acreditava que os organismos se mantinham imutáveis.
Mas com base na sua investigação dos moluscos, convenceu-se de que as espécies evoluem de forma gradual e contínua.
Ideia essa desenvolvida na sua principal obra, Filosofia Zoológica (Philosophie Zoologique, 1809).
No famoso livro, Lamarck formulou, de forma coerente e abrangente, a primeira teoria da evolução.
Ele usou a palavra ‘progressão’ da vida, teoria conhecida como lamarckismo.
Cuvier, que antes do trabalho de Lamarck havia demonstrado a ocorrência de extinção de espécies, era um catastrofista.
Segundo ele, de tempos em tempos alguma calamidade, talvez um dilúvio, extinguia parte das espécies.
Que enquanto existentes eram imutáveis.
Já Lamarck, era um gradualista.
Para ele as espécies progrediam pela acumulação de pequenas mudanças graduais.
Assim nasceu um conflito de ideias entre os cientistas mais eminentes do Muséum national d’Histoire naturelle (MNHN).
Cuvier era mais respeitado e tinha uma retórica poderosa e agressiva.
O que muito contribuiu para que as ideias evolucionistas de Lamarck fossem pouco aceitas na França, embora não ignoradas.
Amargurado e acometido por uma cegueira progressiva, vivendo da ajuda das filhas e de pequenos auxílios do MNHN, morreu Lamarck em 1829, aos 85 anos.
Charles Dawin
Charles Darwin foi oriundo de uma família abastada envolvida com as artes liberais e as ciências, com intensa participação na elite intelectual inglesa.
Seu avô Erasmus Darwin foi médico, cientista, inventor e poeta.
No seu livro Zoonomia: or the Laws of Organic Life (1794) (Zoonomia: ou as Leis da Vida Orgânica), Erasmus antecipou com considerável detalhe ideias de evolução das espécies.
Especulou que a grande variedade de vegetais e animais vista no presente fosse oriunda de filamentos de vida surgidos na Terra em tempos remotos.
Também foi médico o pai de Charles, Robert Darwin.
Que enviou o filho à Universidade de Edimburgo para estudar medicina.
Mas Charles abandonou o curso porque abominou a cirurgia.
Robert enviou então o filho para a Universidade de Cambridge para estudos preparatórios às funções de clérigo.
Novamente Charles abandonou os estudos.
E no final de 1831, com 22 anos, embarcou no barco HSM Beagle rumo a uma viagem exploratória da costa da América do Sul.
O barco acabou fazendo uma circunavegação da Terra e a viagem durou quase cinco anos.
A função oficial de Darwin era ser um acompanhante do capitão do barco, Robert FitzRoy, de 23 anos.
Mas durante toda a viagem atuou intensamente como geólogo e naturalista.
Ao embarcar, recebeu o primeiro volume do livro Princípios da Geologia (Principles of Geology), de 3 volumes publicados no período 1830-1833, que fez do seu autor Charles Lyell o mais importante geólogo do seu tempo.
Darwin leu avidamente o livro e ainda os dois volumes seguintes, que recebeu em Montevidéu (1832) e nas Ilhas Malvinas (1833).
Tornou-se grande admirador de Lyell e na viagem procurou e encontrou várias evidências comprobatórias da teoria gradualista (uniformitarianismo) de Lyell: a geologia do Globo altera-se continua e gradualmente pelos mesmos processos que observamos hoje.
Demonstrou que os Andes continuam se elevando ao encontrar fósseis marítimos recentes em áreas costeiras da cordilheira.
Voltou à Inglaterra trazendo anotações minuciosas e rica coleção de rochas, fósseis e espécies de animais e plantas ainda desconhecidas.
Como por cartas continuamente relatou seus achados aos seus compatriotas, ao desembarcar na Inglaterra já era uma celebridade.
Começou a trabalhar arduamente na análise do seu acervo, com interrupções frequentes forçadas por uma doença contraída na América do Sul, possivelmente Doença de Chagas.
Até o final da vida, lutou contra ela.
Muito jovem, no máximo aos vinte anos, quando estudava em Edimburgo, Darwin tomou conhecimento das ideias evolucionistas de seu avô Erasmus e de Lamarck.
Ambas baseadas na adaptação por caracteres adquiridos transmitidos aos descendentes.
Como praticante de métodos empíricos criteriosos, Darwin julgou tais teorias muito audazes e manteve-se apegado à crença de que as espécies eram imutáveis.
Em 1832, leu a exposição precisa e crítica que Lyell fez do lamarckismo no segundo volume dos Princípios da Geologia, o que pode ter fortalecido suas ideias.
Mudou de posição em 1838, como documentado em várias cartas escritas a colegas e amigos (ao longo da vida, Darwin escreveu ou recebeu cerca de 15.000 cartas!).
Trabalhou longamente no esforço de dar suporte empírico às suas novas ideias, dividindo seu tempo com o trabalho em geologia.
Por vinte anos, nada publicou sobre sua pesquisa em evolução, mas os naturalistas britânicos estavam cientes dela.
Em 1858, recebeu um artigo de Alfred Russel Wallace, que fazia pesquisa de campo em Bornéu, que propunha uma teoria evolucionista idêntica à sua.
Darwin escreveu rapidamente outro artigo, que foi lido conjuntamente com o de Wallace na Linean Society of London em primeiro de julho de 1858.
Em 1859, publicou seu livro A Origem das Espécies (On the Origin of Species).
O livro, que passou por alterações em quatro edições subsequentes, é uma exposição primorosa da sua teoria, baseada na diversidade dos espécimes de cada espécie, cujos caracteres são transmitidos aos descendentes, e na seleção natural dos mais aptos (mais adaptados ao ambiente).
Uma vastíssima base de dados é usada para amparar as conclusões.
Ainda em vida Darwin convenceu as elites científicas britânica e internacional de que a evolução por seleção natural era um fato.
Quando morreu, em 1882, era um dos expoentes científicos do mundo.
Parabéns pela abordagem objetiva e didática.
Só após ler seus textos, pude compreender o embate secular da religião e da ciência sobre a evolução.