Ensinar ciências não é uma tarefa difícil.

Ao contrário, pode ser simples!

E a chave está na mão sua mão, professor, aproveitando aquilo que já é natural nos alunos: a curiosidade!

Especialmente se você trabalhar com as séries iniciais.

No início da vida escolar o aluno tem o desejo de conhecer, de agir, de dialogar, de interagir, de experimentar e também de teorizar.

Coisas que nem sempre são aproveitadas.

Quantas vezes “cortamos” nossos alunos por uma dúvida ou questionamento que é interessante, mas não é o assunto da aula?

Então quando você ensina ciências você faz ciência ou reproduz conceitos?

Há toda uma dialética envolvida na construção do conhecimento, é claro.

E por isso, fazer ciência na escola não é, necessariamente, descobrir uma nova lei.

Ou desenvolver uma nova teoria, propor um novo modelo ou testar uma nova fórmula.

Antes de tudo, fazer ciência na escola é utilizar procedimentos próprios da ciência.

Como exemplo observar, formular hipóteses, experimentar, registrar, sistematizar, analisar, criar… e transformar o mundo.

A escola é um microcosmo da sociedade.

E é também espaço de diversidade, de troca de ideias, de construções coletivas.

Onde aprender tem uma dimensão lúdica e significativa e o conhecimento precisa ser desejado em vez de imposto.

E nós precisamos fazer ciência em nossas aulas!

Fazer ciência em sala de aula baseia-se na curiosidade e na exploração ativa.

Ou seja, construir e oferecer respostas sim, mas sobretudo gerar a indagação e o interesse pela ciência como fonte de conhecimento, de transformação da qualidade de vida e das relações entre os homens.

Promover a pesquisa facilita a vida do professor e cria condições efetivas para um bom aprendizado.

É importante propiciar situações, tanto coletivas como individuais, para observações, questionamentos, formulação de hipóteses, experimentação, análise e registro, estabelecendo um processo de troca professor-classe para gerar novas indagações.

Deixe que os alunos saiam da aula com uma interrogação maior do que aquela que trouxeram quando entraram.

Estimule seus alunos a gostarem de ciência e de ciências!

Você já pensou por que o Brasil é o país do futebol?

Porque todos jogam futebol desde muito cedo.

Se todos no Brasil investíssemos mais em ciência e em tecnologia, em saúde, em educação, em cidadania e no bem-estar social, nossa sociedade seria diferente dessa que aí está.

Você pode estar pensando, mas como fazer ciência se não tenho nem laboratório?

Não é a falta de recursos, de um laboratório ou de qualquer outra infraestrutura física que impede o desenvolvimento de um programa de iniciação científica na escola.

Qual escola que não tem formigas? E quantas patas têm uma formiga? O que elas comem?

Tem outros animais na escola? E os que vivem fora da escola? Tem mamífero entre eles?

E ainda tem o sol, o vento, as plantas, as pedras do pátio….

Percebe?

A questão é aproveitar e focar no que você tem, mais do que no que falta.

Pois sabemos que falta muito e nós, professores, sempre nos desdobramos para fazer o melhor com o que tem.

E fazer ciência não é diferente.

Por mais simples que seja a prática científica, como por exemplo, a observação de alguma planta, pedra ou animal da escola, o importante é começar a exercitar.

A observação de tudo que nos cerca é sempre um bom começo, e que não tem fim.

Portanto, vamos observar, levantar hipóteses, medir, experimentar, fazer contas, ler, escrever, desenhar, divulgar, trocar, envolver…

É claro que isso não significa dispensar um laboratório ou equipamentos mais elaborados de pesquisa científica.

Claro que o ideal seria ensinar no espaço adequado, com número de alunos adequado, com material adequado.

Mas podemos sempre utilizar o que nos cerca.

Quem detém o conhecimento detém o poder.

Além disso, é preciso alertar para as repercussões sociais do conhecimento científico.

Ou seja, formar cientistas sim, mas o propósito educacional antes de tudo deve contemplar a formação de cidadãos críticos.

Indivíduos aptos a tomar decisões e estabelecer os julgamentos sociais necessários ao século 21.

As aulas de ciências devem se tornar momentos privilegiados

Ou seja, momentos para debater o impacto que o conhecimento gera na sociedade.

E também para alertar para riscos e benefícios do progresso cientifico.

Isso significa buscar a formação dos alunos como cidadãos, de modo que possam estabelecer julgamentos, tomar decisões e atuar criticamente frente às questões que a ciência e a tecnologia têm colocado ao presente.

E, certamente, colocarão ao futuro.

O aluno se tornará mais crítico e ativo se democratizarmos o acesso ao conhecimento científico e tecnológico, incentivando o interesse pela ciência e pelas relações entre os conceitos científicos e a vida.

A ideia de que para fazer ciência é preciso ser gênio é um mito que só atrapalha o ensino.

Há muita mistificação da ciência e do cientista, tanto na escola como na sociedade.

Assim, é importante que você, professor, propicie aos alunos oportunidades de desenvolver ativamente as habilidades envolvidas na atividade científica.

Por isso, ensinar ciências desenvolvendo atividades investigativas além de uma boa solução para a aprendizagem, é também o desejo de mudar a prática pedagógica.

E é esse amadurecimento e esse refletir constante que garantirão que ocorram as mudanças efetivas na prática pedagógica do ensino de ciências do país.

Nessa perspectiva devemos começar identificando e valorizando o conhecimento que o aluno detém sobre o que se pretende ensinar.

Assim se estabelece o debate sobre as relações entre o conhecimento popular e o conhecimento científico.

Reforçando a interação da escola com as famílias e a comunidade, enfatizando temas atuais, objetos de debate na sociedade, estabelecendo relações entre conhecimento científico e exercício da cidadania.

Isto significa reconhecer que a construção do conhecimento envolve diferentes pessoas e instituições, às quais se deve dar o devido crédito.

Dessa forma é possível relacionar o conhecimento construído com aquele historicamente acumulado, reconhecendo que a descoberta tem um ou mais autores e um contexto histórico, social e cultural.

Mas e o livro didático que eu tenho que seguir?

O livro didático é um suporte de conhecimentos e de métodos para o ensino.

E serve como orientação para as atividades de produção e reprodução de conhecimento.

Mas não podemos nos transformar em reféns do livro, imaginando encontrar ali todo o saber verdadeiro e a narrativa ideal.

Todos os livros apresentam problemas e o professor deve estar sempre atento para trabalhar eventuais incorreções.

Também é preciso perceber que o livro é uma mercadoria do mundo editorial, sujeito às influências sociais, econômicas, técnicas, políticas e culturais como qualquer outra mercadoria que percorre os caminhos da produção, distribuição e consumo.

Portanto, muito cuidado!

É fundamental preservar sua independência, refletindo sobre o que é ciência e como ensinar ciências, para que se possa fazer uma boa escolha do livro que será utilizado em suas aulas.

Experimente sempre!

Sim, se você não testar algo novo nunca vai saber qual o resultado.

Aproveite a curiosidade, sua e de seus alunos, incentivando a exploração ativa, o envolvimento pessoal e o uso dos sentidos.

Não se preocupe se você não dispõe de laboratório.

Você pode se surpreender com sua criatividade e a de seus alunos.

Valorize a comunicação da ciência, utilizando diferentes propostas tais como seminários, teatro, painéis, exposições, experimentos, sempre em linguagens e formatos apropriados.

E principalmente, valorize o seu papel como um problematizador, e não um simples facilitador ou monitor de atividades.