O cerrado é uma das regiões de maior biodiversidade do planeta e cobre 25% do território nacional.
Estimativas apontam mais de 6.000 espécies de árvores e 800 espécies de aves.
Além de grande variedade de peixes e outras formas de vida.
Calcula-se que mais de 40% das espécies de plantas lenhosas e 50% das espécies de abelhas sejam endêmicas.
Isto é, só ocorrem nas savanas brasileiras.
É o segundo maior bioma do país em área, apenas superado pela Floresta Amazônica.
O cerrado é uma formação do tipo savana tropical.
Com extensão de cerca de dois milhões de km² no Brasil, com uma pequena inclusão na Bolívia.
A fisionomia mais comum é uma formação aberta de árvores e arbustos baixos coexistindo com uma camada rasteira graminosa.
Engana-se quem acha que cerrado é tudo uma coisa só.
Existem várias outras fisionomias, indo desde os campos limpos até as formações arbóreas.
O bioma cerrado e sua biodiversidade de formas
A vegetação apresenta fisionomias que englobam formações florestais, savânicas e campestres.
O clima tem efeitos indiretos sobre a vegetação (o clima age sobre o solo), da química e física do solo, da disponibilidade de água e nutrientes, e da geomorfologia e topografia.
A distribuição da flora é condicionada pela latitude, frequência de queimadas, profundidade do lençol freático, pastejo e inúmeros fatores antrópicos (abertura de áreas para atividades agropecuárias, retirada seletiva de madeira, queimadas como manejo de pastagens etc).
São descritos onze tipos fitofisionômicos gerais, muitos dos quais apresentam subtipos:
Formações florestais
As formações florestais do Cerrado englobam os tipos de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e formação de dossel.
A Mata Ciliar e a Mata de Galeria são fisionomias associadas a cursos de água, que podem ocorrer em terrenos bem drenados ou mal drenados.
A Mata Seca e o Cerradão ocorrem nos interflúvios, em terrenos bem drenados.
A Mata de Galeria possui dois subtipos: não Inundável e Inundável.
A Mata Seca, três subtipos: Sempre-Verde, Semi-Decídua e Decídua.
O Cerradão pode ser classificado como Mesotrófico ou Distrófico.
Caracteriza-se pela vegetação florestal que acompanha os rios de médio e grande porte da região do cerrado.
Em geral essa Mata é relativamente estreita em ambas as margens.
Dificilmente ultrapassando 100 m de largura em cada.
Geralmente a Mata Ciliar ocorre sobre terrenos acidentados.
Pode ocorrer uma transição nem sempre evidente para outras fisionomias florestais como a Mata Seca e o Cerradão.
A Mata Ciliar diferencia-se da Mata de Galeria pela composição florística e pela deciduidade.
Na Mata Ciliar há diferentes graus de caducifolia na estação seca enquanto que a Mata de Galeria é perenifólia.
A camada de serapilheira que se forma é sempre menos profunda que a encontrada nas Matas de Galeria.
As árvores, predominantemente eretas, variam em altura de 20 a 25 m.
Alguns poucos indivíduos emergentes alcançando 30 m ou mais.
Caracteriza-se pela vegetação florestal que acompanha os rios de pequeno porte e córregos dos planaltos do Brasil.
Formando corredores fechados (galerias) sobre o curso de água.
Localiza-se nos fundos dos vales ou nas cabeceiras de drenagem onde os cursos de água ainda não escavaram um canal definitivo.
Quase sempre é circundada por faixas de vegetação não florestal em ambas as margens.
E em geral ocorre uma transição brusca com formações savânicas e campestres.
De acordo com a composição florística e características ambientais, como topografia e variação na altura do lençol freático ao longo do ano, a Mata de Galeria pode ser de dois tipos:
Vegetação florestal que acompanha um curso de água.
Onde o lençol freático não está próximo ou sobre a superfície do terreno na maior parte dos trechos o ano todo, mesmo na estação chuvosa.
Vegetação florestal que acompanha um curso de água.
Onde o lençol freático está próximo ou sobre a superfície do terreno na maior parte dos trechos durante o ano todo, mesmo na estação seca.
Apresenta trechos longos com topografia bastante plana, sendo poucos os locais acidentados.
Formações florestais caracterizadas por diversos níveis de caducifolia durante a estação seca.
Dependentes das condições químicas, físicas e principalmente da profundidade do solo.
A Mata Seca não possui associação com cursos de água.
Ocorre nos interflúvios em solos geralmente mais ricos em nutrientes.
Em função do tipo de solo, da composição florística e, em consequência, da queda de folhas no período seco, a Mata Seca pode ser de três subtipos: Mata Seca Sempre-Verde, Mata Seca Semidecídua, a mais comum, e Mata Seca Decídua.
Em todos esses subtipos a queda de folhas contribui para o aumento da matéria orgânica no solo, mesmo na Mata Seca Sempre-Verde.
A altura média do estrato arbóreo varia entre 15-25 m.
A grande maioria das árvores é ereta, com alguns indivíduos emergentes.
A Mata Seca Decídua pode apresentar-se com um aspecto singular (estrutura e ambiente).
Se ocupa áreas rochosas de origem calcária, quando também é conhecida por “Mata Seca em solo calcário” ou ainda “Mata Calcária”.
Esse tipo de mata possui grande afinidade florística com a Caatinga, podendo ser considerada como um tipo de “Caatinga arbórea”.
Formação florestal com aspectos xeromórficos, sendo também conhecido pelo nome “Floresta Xeromorfa”.
O cerradão é mata mais rala e fraca.
Caracteriza-se pela presença de espécies que ocorrem no Cerrado s.s. e também por espécies de mata.
Do ponto de vista fisionômico é uma floresta, mas floristicamente é mais similar a um Cerrado.
O Cerradão apresenta dossel predominantemente contínuo e cobertura arbórea que pode oscilar de 50 a 90%.
A altura média do estrato arbóreo varia de 8-15 m.
O que proporciona condições de luminosidade que favorecem à formação de estratos arbustivo e herbáceo diferenciados.
Formações savânicas
As formações savânicas do cerrado englobam quatro tipos fitofisionômicos principais: o Cerrado s.s., o Parque de Cerrado, o Palmeiral e a Vereda.
De acordo com a densidade (estrutura) arbóreo-arbustiva, ou do ambiente em que se encontram, o Cerrado s.s. apresenta quatro subtipos: Cerrado Denso, Cerrado Típico, Cerrado Ralo e Cerrado Rupestre.
O Palmeiral pode ter vários subtipos, determinados pela espécie dominante.
É caracterizado pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas.
Geralmente com evidências de queimadas.
Algumas espécies apresentam órgãos subterrâneos perenes (xilopódios), que permitem a rebrota após a ocorrência de queimadas ou corte.
As folhas em geral são rígidas e coriáceas.
Devido à complexidade dos fatores condicionantes, originam-se subdivisões fisionômicas distintas do Cerrado s.s., sendo as principais: o Cerrado Denso, o Cerrado Típico e o Cerrado Ralo, além do Cerrado Rupestre.
As três primeiras refletem variações na forma dos agrupamentos e espaçamento entre os indivíduos lenhosos.
Seguem um gradiente de densidade decrescente do Cerrado Denso ao Cerrado Ralo.
Já o Cerrado Rupestre diferencia-se dos três subtipos anteriores pelo substrato.
Tipicamente em solos rasos com presença de afloramentos de rocha e por apresentar outras espécies características, adaptadas a esse ambiente.
O cerrado Denso é um subtipo de vegetação predominantemente arbóreo.
Representa a forma mais densa e alta de cerrado s.s.
Os estratos arbustivo e herbáceo são mais ralos, provavelmente devido ao sombreamento resultante da maior densidade de árvores.
O Cerrado Típico é uma forma comum e intermediária entre o Cerrado Denso e o Cerrado Ralo.
O Cerrado Ralo é um subtipo de vegetação arbóreo-arbustiva.
Representa a forma mais baixa e menos densa de Cerrado s.s.
O estrato arbustivo herbáceo é mais destacado que nos subtipos anteriores.
O Cerrado Ralo apresenta diferenças estruturais em relação aos subtipos anteriores, mas a composição florística é semelhante.
O Cerrado Rupestre é um subtipo de vegetação arbóreo-arbustiva que ocorre em ambientes rupestres (litófilos ou rochosos).
Embora possua estrutura semelhante ao Cerrado Ralo, o substrato é um critério de fácil diferenciação, pois comporta pouco solo entre afloramentos de rocha.
Cerrado Rupestre os indivíduos arbóreos concentram se nas fendas entre as rochas.
E a densidade é variável e dependente do volume de solo.
É uma formação savânica caracterizada pela presença de árvores agrupadas em pequenas elevações do terreno.
Algumas vezes imperceptíveis, conhecidas como “murundus” ou “monchões”.
As árvores possuem altura média de 3-6 m e formam uma cobertura arbórea de 5-20%.
A flora que ocorre nos murundus é similar à que ocorre no Cerrado s.s..
Porém com espécies que provavelmente apresentam maior tolerância à saturação hídrica do perfil do solo.
Considerando que apenas uma parte do volume de terra do murundu permanece livre de possíveis inundações.
A formação savânica caracterizada pela presença marcante de uma única espécie de palmeira arbórea é denominada Palmeiral.
Praticamente não existem árvores, embora quando presentes ocorram com frequência baixa.
No bioma cerrado podem ser encontrados diferentes subtipos de palmeirais, que variam em estrutura de acordo com a espécie dominante.
Pelo domínio de determinada espécie, pode-se designar um trecho de vegetação com o nome comum da espécie dominante.
Em geral os Palmeirais do cerrado ocorrem em terrenos bem drenados.
Embora também ocorram em terrenos mal drenados, onde pode haverá formação de galerias acompanhando as linhas de drenagem.
Quando o dossel é tipicamente descontínuo ou ainda quando não há formação de dossel, os Palmeirais comumente são formados pelas espécies Acrocomia aculeata (que caracteriza o macaubal) ou Syagrus oleracea (guerobal).
Se a espécie dominante é Attalea speciosa (babaçu), caracterizando o babaçual, geralmente há um dossel mais contínuo que os casos anteriores.
A presença do babaçu parece associar-se fortemente a áreas antropizadas, onde coloniza agressivamente antigas formações florestais desmatadas.
A espécie resiste a fogo moderado, que faz sucumbir outras espécies arbóreas.
É a fitofisionomia com a palmeira arbórea Mauritia flexuosa emergente.
Em meio a agrupamentos mais ou menos densos de espécies arbustivo herbáceas.
Veredas são circundadas por Campo Limpo, geralmente úmido.
E os buritis não formam dossel como ocorre no buritizal.
Na Vereda os buritis caracterizam-se por 12-15 m altura. e a cobertura de 5 a 10%.
Veredas são encontradas em solos hidromórficos, saturados durante a maior parte do ano.
Elas exercem papel fundamental na manutenção da fauna do cerrado, funcionando como local de pouso para a avifauna, atuando como refúgio, abrigo, fonte de alimento e local de reprodução também para a fauna terrestre e aquática.
Formações campestres
Englobam três tipos fitofisionômicos principais: o Campo Sujo, o Campo Rupestre e o Campo Limpo.
O Campo Sujo caracteriza-se pela presença marcante de arbustos e subarbustos por entre o estrato herbáceo.
O Campo Rupestre diferencia-se tanto pelo substrato, composto por afloramentos de rocha, quanto pela composição florística, que inclui muitos endemismos.
No Campo Limpo a presença de arbustos e subarbustos é insignificante.
De acordo com particularidades topográficas ou edáficas, o Campo Sujo e o Campo Limpo podem apresentar três subtipos cada.
São eles: Campo Sujo Seco, Campo Sujo Úmido e Campo Sujo com Murundus e Campo Limpo Seco, Campo Limpo Úmido e Campo Limpo com Murundus.
Exclusivamente herbáceo-arbustivo, com arbustos e subarbustos esparsos cujas plantas, muitas vezes, são constituídas por indivíduos menos desenvolvidos das espécies arbóreas do Cerrado s.s.
Em função de particularidades ambientais o Campo Sujo pode apresentar três subtipos fisionômicos distintos.
Na presença de um lençol freático profundo ocorre o Campo Sujo Seco.
Se o lençol freático é alto, há o Campo Sujo Úmido.
Quando na área ocorrem micro relevos mais elevados (murundus), tem-se o Campo Sujo com Murundus.
A composição florística e a importância fitossociológica das espécies nos três subtipos de Campo Sujo podem diferir se o solo for bem drenado (Campo Sujo Seco) ou mal drenado (Campo Sujo Úmido ou com Murundus).
Predominantemente herbáceo-arbustivo, com a presença eventual de arvoretas pouco desenvolvidas de até 2 m altura.
Abrange um complexo de vegetação que agrupa paisagens em micro relevos com espécies típicas, ocupando trechos de afloramentos rochosos.
Em geral ocorre em altitudes > 900 m, em áreas onde há ventos constantes, dias quentes e noites frias.
Há locais em que praticamente dominam a paisagem, enquanto em outros a flora herbácea predomina.
Também são comuns agrupamentos de indivíduos de uma única espécie, cuja presença é condicionada, entre outros fatores, pela umidade disponível no solo.
Algumas espécies podem crescer diretamente sobre as rochas, sem que haja solo, como ocorre a algumas aráceas e orquidáceas.
A flora é típica, dependente das condições edáficas restritivas e do clima peculiar.
Predominantemente herbácea, com raros arbustos e ausência completa de árvores.
É encontrado com mais frequência nas encostas, nas chapadas, nos olhos d´água, circundando as Veredas e na borda das Matas de Galeria, geralmente em solos pouco profundos.
Quando ocorre em áreas planas, relativamente extensas, contíguas aos rios e inundadas periodicamente, também é chamado de “Campo de Várzea”, “Várzea” ou “Brejo”.
O Campo Limpo, como o Campo Sujo, também apresenta variações dependentes de particularidades ambientais, determinadas pela umidade do solo e topografia.
Na presença de um lençol freático profundo ocorre o Campo Limpo Seco, mas se o lençol freático é alto, há o Campo Limpo Úmido, cada qual com sua flora específica.
Quando aparecem os murundus, tem-se o Campo Limpo com Murundus.
Em geral, o Campo Limpo com Murundus é menos frequente que o Campo Sujo com Murundus.
Dia nacional do cerrado
No dia 11 de setembro comemoramos o dia nacional do cerrado.
Mas é sempre bom lembrar que não temos muito o que comemorar.
Nas últimas décadas, o cerrado tem sido visto como uma alternativa ao desmatamento na Amazônia.
Seja por expansão agrícola, seja por plantios florestais para fixar carbono atmosférico o cerrado tem desaparecido.
Parabéns pelo artigo, adorei!
Conteúdo bem completo, vou utilizar nos meus trabalhos. Abraços!