Você já ouviu falar em entomologia forense?

Se você já assistiu alguma série investigativa provavelmente sabe que os insetos são testemunhas fundamentais para a solução de vários crimes.

E isso não é apenas ficção.

A investigação forense é compostas por várias áreas de estudos.

A que se refere aos insetos, é a entomologia forense.

A entomologia forense é a ciência que trata da aplicação do estudo do comportamento de insetos e outros artrópodes associados a um cadáver humano.

Por meio dessa ciência é possível determinar a data da morte (tempo entre a morte e a data que o cadáver foi encontrado, o denominado intervalo pós morte (IPM)), se o corpo foi movido para um segundo local e também se foi manipulado, e possivelmente deduzir as circunstâncias que cercaram o fato antes ou depois do ocorrido.

A entomologia forense também pode ser aplicada nas investigações sobre maus tratos, danos imobiliários e tráfico de entorpecentes e vitimas de mortes violentas.

Mas como a entomologia pode ajudar a chegar no intervalo pós morte?

O conhecimento sobre o processo de decomposição dos cadáveres é fundamental para fazer a estimativa do intervalo pós-morte, porém alguns fatores influenciam no processo de decomposição.

A estimativa de IMP, considerando a entomologia, pode ocorrer de duas formas:

  • observando-se o substrato onde foi feita a oviposição logo depois da morte e
  • fazendo-se a determinação da idade daqueles insetos, prevendo a sequência na sucessão da fauna.

Outros modelos de estudo consistem em separar as fases da morte em:

  • fresca,
  • putrefação,
  • putrefação escura,
  • fermentação e
  • seco.

Cada momento da putrefação cadavérica oferece condições e características próprias.

Isso significa que cada etapa atraí diferentes grupos de insetos.

E estes se sucedem de maneira distinta durante os diferentes estágios da decomposição.

entomologia

O estudo desta sucessão e o reconhecimento das espécies envolvidas nesse processo podem auxiliar na estimativa do IPM de um cadáver.

Dos insetos,  os besouros representam a mais numerosa espécie descrita.

Esses insetos ganharam importância na área forense por serem abundantemente encontrados associados a material em decomposição.

Para que haja uma estimativa do IPM são necessárias espécies necrófagas.

Estas utilizam matéria orgânica em decomposição como fonte de proteína e para ovoposição.

Isso acelera a putrefação e a desintegração do corpo o que facilita o estudo do caso, pois cada fase de putrefação atrai um determinado grupo.

Por que os insetos são importantes para uma investigação?

O emprego da Entomologia forense depende de muita biologia.

Conhecimento sobre taxonomia, biologia, ciclo de vida, sucessão e ecologia dos insetos estudados é fundamental.

A capacidade dos insetos de sentirem odores que os humanos não conseguem sentir, faz com que sejam os primeiros a chegar no local de um crime.

Ou no local onde tenha um organismo morto, mesmo que a decomposição seja feita principalmente por microrganismos, como bactérias.

Os odores que são exalados pelo cadáver vão sendo modificados no decorrer da decomposição.

Essa mudança no odor vai se tornando mais ou menos atrativos para as espécies.

A presença de insetos necrófagos no cadáver pode dar pistas importantes sobre o ocorrido no local da morte, como a cronologia.

Existem quatro categorias que dividem a função ecológica da fauna cadavérica e são considerados em uma investigação:

entomologia

A entomofauna encontrada no cadáver, se analisada, pode dar algumas importantes informações sobre:

a) Identidade do morto

Pode ser feita com a obtenção do sangue e dos tecidos do cadáver no interior dos insetos e posterior análise de DNA para identificação.

b) Causa da morte

Como a velocidade da decomposição é influenciada por alguns fatores como o local onde a pessoa morreu, pode-se descobrir se ela foi morta por afogamento, carbonização, envenenamento, entre outras coisas.

c) Movimentação do corpo

Como a diversidade de insetos necrófagos é grande até mesmo dentro de uma mesma região, pode-se deduzir se o corpo foi movimentado.

Isso é possível a partir da coleta e identificação dos insetos adultos, comparando-os com os que ainda estão imaturos.

d) Uso de toxinas ou drogas

As toxinas ou drogas que estiverem presentes no corpo em decomposição causam mudanças no desenvolvimento dos estágios da vida dos insetos que se alimentam da matéria orgânica.

Essas substâncias também podem ser identificadas no organismo do inseto.

Mas que tipos de insetos e artrópodes são utilizados nas análises forenses?

Entre as várias espécies de insetos que estão envolvidas com a decomposição do corpo, podemos mencionar as que possivelmente já habitavam o corpo antes do falecimento, como pulgas e piolhos.

A ordem Diptera é a que recebe maior relevância na maioria dos casos, em razão do fato de que as moscas são as primeiras a encontrarem o corpo, então, sempre estão relacionadas ao estágio inicial da decomposição.

As famílias de Dípteros de importância na entomologia forense no Brasil são:

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Já os coleópteros são a principal evidência entomológica para que seja determinado o IPM, principalmente quando são encontrados em esqueletos, já na fase seca da decomposição.

As principais famílias de coleópteros são:

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Outras ordens que têm menor importância para a Entomologia forense, como algumas que são encontradas nos estágios mais avançados da decomposição.

Tais como lepidópteros, que compreendem as borboletas e mariposas, e os himenópteros, que abrangem abelhas, vespas e formigas.

Outros insetos que são encontrados em ossos e são associados ao término da decomposição de cartilagens e ligamentos são da ordem Blattodea, que é representada pelas baratas, os hemípteros que são os percevejos e os isópteros que são os cupins.

Também é relatado um último grupo de hábitos noturnos que são geralmente saprófagos, os dermapteros, que são as “lacrainhas”.

Relação com a toxicologia

A entomologia forense também pode estar associada a toxicologia.

A entomotoxicologia estuda a aplicação dos insetos necrófagos na análise toxicológica a fim de identificar drogas e toxinas presentes em um tecido.

Também investiga o efeito causado por estas substâncias no desenvolvimento dos artrópodes para aumentar a precisão na estimativa de morte.

As larvas encontradas no corpo decomposto pode identificar os tipos de substâncias presentes, como antidepressivos, estimulantes entre outras.

Mas por que usar insetos?

Para uma análise toxicológica é mais vantajoso utilizar as larvas do que tecidos de um cadáver.

Moscas e besouros utilizam os tecidos humanos intoxicados como alimento inserindo assim, em seu metabolismo drogas e toxinas.

Outro fator importante quando se refere à aplicação da entomologia forense é como a morte ocorreu, pois dependendo das substâncias presentes no corpo, podem acelerar ou retardar o desenvolvimento dos insetos necrófagos.

Que é o caso do arseniato de chumbo, além da maneira como a morte foi executada, ou seja, se foi por envenenamento, soterramento, carbonização entre outros.

Formação do entomologista forense

O entomologista forense deve possuir um bom conhecimento de taxonomia, biologia e ecologia de insetos.

A maioria dos cursos de entomologia forense são especializações e pós graduações lato sensu em diversas instituições.

A faixa salarial para os cientistas forenses empregadas em concursos federais, por exemplo, chega a cerca de R$ 12 mil por mês.

Entomologistas forenses geralmente trabalham para as agências de aplicação da lei que ajudam a solucionar crimes. Eles também podem conduzir a pesquisa para agências governamentais.

Para quem quiser saber mais sobre o assunto há vários livros bacanas.

Dentre eles o Entomologia Forense: Quando os insetos são vestígios e  o Manual de entomologia forense.

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