A comunicação é parte importante da experiência social de aprendizagem e provoca interação pela linguagem e pela ação.

O que torna necessário expressar-se de maneira clara e segura, trazendo para a prática pedagógica a interação diante do processo comunicativo.

Uma aula não é apenas domínio de conteúdo, mas também, um processo de comunicação que busca a interação, capaz de produzir questionamentos e favorecer a aprendizagem de seus alunos.

A sala de aula representa um contexto particular para a comunicação, o educador é o principal motivador da aprendizagem.

Os professores não estão numa situação de discurso monólogo, mas sim, no momento importante para aprendizagem devido a possibilidade de troca de conhecimentos no momento da interação.

Como então aproximar os alunos desse processo comunicativo?

1) Autoconhecimento e conhecimento do outro

Um aspecto pouco falado e muito importante é o olhar do professor para para si mesmo.

O olhar para si ajuda identificar suas expectativas, preconceitos e estereótipos, para à construção de um melhor relacionamento e à prática de um ensino mais eficaz.

O professor precisa ter consciência de que o autoconhecimento é a fonte principal de uma comunicação eficaz.

Uma pessoa que se conhece bem é alguém que sabe reagir adequadamente as diferentes situações que o cotidiano lhe apresenta.

Esse conhecimento facilita para que o professor controle o ambiente da sala de aula.

Á medida que nos vamos relacionando com o(s) outro(s) damos e recolhemos informação e abrimos, aos poucos, a “janela” do conhecimento.

É no contato com os outros que passamos a saber mais sobre nós próprios e sobre os outros.

Um professor que, na sala de aula,  motive um processo de feedback pode facilitar a comunicação interpessoal.

Isso porque na medida em que transmite informações sobre o outro, favorece a construção da auto-estima e o envolvimento dos alunos nas tarefas.

2) Habilidades comunicativas

Dominar a comunicação verbal e gestual facilita as interações com os outros.

Esse dica é do campo da oratória, mas quem disse que também não somos oradores?

Precisamos explicar, direcionar, prender a atenção do aluno e para isso, o como falamos tem  influência direta.

Volume da voz

O volume deve ser adequado ao espaço.

Nem demasiado alto (porque os alunos não escutam quando você grita) e pode ser interpretado como descontrole, domínio ou poder de persuasão.

Nem demasiado baixo (por que os alunos não te escutam também!) pois poderá indicar tristeza, desânimo, insegurança ou submissão.

Clareza de dicção

A dicção depende do domínio da pronunciação de fonemas e de estados emocionais.

Pronúncias muito acentuadas pode ser negativo na comunicação por serem de difícil compreensão.

Fluidez

A facilidade que o professor tem em encontrar palavras adequadas e expressá-las de forma continua, sem interrupções, mantendo uma entoação e um volume adequado pode ser fundamental para seja audível e inteligível.

Velocidade

Consiste no número de emissão de palavras por minuto.

Falar muito depressa pode dificultar a compreensão da mensagem e falar muito devagar pode dispersar o ouvinte.

A velocidade da fala deve ajusta-se à capacidade de descodificação do ouvinte.

Partindo do modo como escuta e fala, nas palavras e nos gestos, o professor é um modelo de comunicação para os alunos.

Desde a primeira aula, deve usar o estilo de comunicação afirmativo, que crie um clima de tolerância e respeito, de liberdade e responsabilidade, em que cada aluno possa expor as suas dúvidas ou opiniões sem receio de ser criticado.

3) Participação dos alunos

Existem três tipos de alunos que nos podem dificultar o decorrer de uma aula: os tímidos, os faladores e os agressivos.

O que o  professor pode fazer?

Estimular os tímidos

Os alunos tímidos não gostam de revelar em público as suas opiniões, nem as suas dúvidas, com receio da avaliação do professor ou das críticas dos colegas, só falam quando são solicitados.

Comunicam sobretudo através da linguagem não-verbal (postura, gestos e olhar).

Outros apenas tem mais facilidade em escrever do que falar.

De qualquer forma, é preciso respeitar o silêncio dos alunos.

Se o professor pretende estimular a participação de um tímido, deve fazer-lhe perguntas simples e diretas, apelar aos seus conhecimentos, não interromper, nem permitir que colegas interrompam a sua intervenção e valorizar o que ele diz.

Assim, fortalecerá a autoestima e a autoconfiança do aluno.

Disciplinar os faladores

Os alunos faladores tendem a monopolizar o debate, fazem intervenções frequentes e longas, com pouco espírito crítico.

Não hesitam em interromper os outros, quando pretendem dizer alguma coisa, desviam-se do assunto com facilidade.

Para disciplinar um aluno falador, o professor deve centrá-lo no tema em discussão, evitar dirigir-lhe perguntas abertas, lembrar-lhe o direito dos outros à participação e lhe cortar a palavra, de forma hábil, sempre que ultrapasse os limites e perturbe o ritmo da aula.

Uma outra estratégia possível para dominar um falador é atribuir lhe a função de moderador do debate, desde que o aluno revele competências para o exercício dessa responsabilidade.

O objetivo é que o aluno aprenda a controlar-se e dê espaço aos outros.

Controlar os agressivos

Os alunos agressivos têm dificuldade em escutar.

Manifestam pouco respeito pelas ideias dos outros, falam com arrogância, interrompem os outros para manifestar as suas discordâncias, gostam de impor os seus pontos de vista, provocam conflitos e muitas vezes, atacam o professor e os colegas.

Para controlar um agressivo, o professor deve manter o autodomínio, relativizar as críticas, pedir-lhe com serenidade que fundamente as suas afirmações e aproveitar os aspectos positivos da sua intervenção.

Em algumas turmas, é vantajoso usar a dinâmica de grupo para ‘isolar’ os agressivos.

Um aluno imaturo pode descontrolar-se e ser agressivo, mas um professor educa pelo exemplo.

Não deve responder a provocações.

Quando o professor perde o autodomínio, enfraquece a sua autoridade.

No final da aula, uma conversa privada com o aluno pode ajudá-lo a corrigir a sua conduta.

Independente do tipo de aluno, ouvir e dar espaço para que ele participe da aula é muito importante.

4) Clareza da linguagem

Ensinar é comunicar.

A primeira condição para comunicar de forma eficaz é o domínio daquilo que se ensina.

Ninguém fala com clareza daquilo que não sabe, não domina.

Uma das questões fundamentais consiste na compatibilidade entre os códigos linguísticos do professor/aluno.

Na biologia, e na ciência existem muitos termos técnicos e o excesso deles pode prejudicar a compreensão do aluno.

Tem problema usar uma linguagem mais próxima ao aluno?

Não. Desde que não fique apenas nessa linguagem informal.

A sala de aula é um espaço de aprendizagem de linguagem também, a linguagem científica.

Os alunos, na sua maioria, no inicio não dominam um vocabulário científico ou técnico e grande parte não expõe as suas dúvidas por isso.

É importante que o professor determine o nível de desenvolvimento dos seus alunos, para que possa dosar a linguagem utilizada.

Se os alunos não compreendem, o professor precisa ter a habilidade de explicar o assunto novamente por outras palavras.

Conforme os alunos demonstram compreensão, o professor vai aumentando o vocábulo técnico/científico.

5) Estratégias que facilitam a comunicação de conteúdos

Curiosidade dos alunos

Devemos impulsionar e estimular a curiosidade do para as matérias que vamos leccionar.

Uma boa introdução do tema pode captar o interesse do aluno, pois um ouvinte interessado é meio caminho para que a mensagem chegue devidamente.

Que tal dar mais atenção aos assuntos cotidianos do aluno?

Ou apresentar os conteúdos como problemas?

Utilização de histórias, exemplos e fatos concretos

Por vezes fatos verídicos desperta mais interesse nos alunos, muitos podem se identificar com os exemplos dados.

Histórias de vida, sobretudo histórias ligadas à matéria, exemplos concretos são importantes se ajudarem a despertar a curiosidade dos alunos e a focar a sua atenção no essencial.

Trabalhar um conteúdo por meio de um estudo de caso ou pela história da ciência podem ser saídas para estimular a participação dos alunos.

Uso de comparações

Utilizando a comparação com fatos semelhantes do dia-a-dia ou com algo que já conhecem.

Comparações podem aproximar os alunos do conteúdo e pode ser mais fácil de compreender do que uma explicação abstrata.

Transferências e generalizações

Consiste na aplicação, na vida prática, dos conhecimentos adquiridos.

Esta estratégia permite que os alunos transportem para a realidade determinados conteúdos leccionados.

O professor deve relacionar os conteúdos, sempre que possível, com aquilo que os alunos já sabem, pois aprendem melhor quando conseguem ligar os novos conteúdos às aprendizagens anteriores e à realidade concreta em que se inserem.

Para quem quiser se aprofundar no assunto recomendo os livros: Antão, J. (2001). Comunicação na sala de aula e Viera, H. (2000). A comunicação na sala de aula.