Você sabia que as plantas podem revelar muito de um crime? Essa é a especialidade da botânica forense!

Se você gosta de biologia forense, essa é mais uma possibilidade de atuação.

A botânica forense é uma área da ciência forense que realiza a análise e tratamento de vestígios vegetais para obtenção de evidências científicas na solução de casos.

Por isso, desempenha um papel excepcional na reconstrução de fatos forenses relevantes.

Você pode estar se perguntando agora, mas como uma planta pode ajudar a desvendar um crime?

De muitas formas!

Por exemplo, a identificação de espécies de plantas pode ajudar a determinar a origem geográfica de uma amostra.

E com isso pode relacionar a cena de um crime a um suspeito e também verificar álibis.

Além disso, por meio da evidência vegetal é possível determinar se uma morte é devido a um acidente, um suicídio ou um homicídio.

Ou ainda quando o corpo foi enterrado.

A botânica forense pode também ser utilizada para determinar se uma cena de crime é primária ou secundária.

Ou seja, onde o corpo foi encontrado é o local do crime? O local que o corpo foi encontrado é apenas local de desova?

E também para localizar os corpos ausentes.

Ou seja, alguém morreu naquele local?

Uma das ferramentas da botânica forenses é a análise molecular.

E a partir da análise molecular de testes botânicos é possível identificar espécies de plantas relacionadas a uma área geográfica específica.

Ou seja, determinada planta encontrada na cena do crime só existe em um local ou região.

Outra área na botânica forense é a palinologia, área responsável pelo estudo dos polens.

Um minusculo grão de pólen pode colocar o suspeito no local do crime.

Ou determinar se a pessoa foi morta em um local diferente da onde foi encontrada.

Outra ramificação importante da botânica forense é a limnologia.

Ou seja, estuda as interações físico-químicas de organismos, dos mais diversos, em ambientes de água doce.

Como por exemplo a presença de diatomáceas na medula óssea de uma vítima, que traz evidências para sustentar um afogamento.

E que, sob análise de sua composição, pode indicar também o local do incidente com precisão.

Outras áreas incluem:

Ficologia, que é o estudo das algas.

Tanto de formas procariotas (conhecidas como algas azuis esverdeadas ou cianobactérias) quanto de formas eucariotas (desde macroalgas até diatomáceas).

A Dendrocronologia, que se caracteriza pelo estudo e análise da formação de anéis nos troncos das árvores.

Indicando a idade do organismo bem como acontecimentos naturais que atingiram-no (incêndios, geadas, inundações e etc).

E a Botânica Molecular, que é a análise a nível molecular dos vestígios vegetais que se encontram muito deteriorados e não são passíveis de análises por métodos anatômicos e morfológicos.

A botânica forense em casos reais

Sequestro do bebê de Lindbergh

Um exemplo real de como a botânica forense é fundamental na investigação criminal, é o sequestro do bebê de Lindbergh em 1932, nos Estados Unidos.

No dia 12 de maio, o corpo da criança foi encontrado e um suspeito detido e apontado como o criminoso.

Entre os itens apreendidos, estava a escada usada pelo autor, que foi crucial na resolução do caso.

O anatomista de madeira, Arthur Koehler, mostrou aos jurados que o próprio assassino havia construído a escada, com diferentes tipos de madeira, como o Abeto (Abies sp.), Pinheiro (Pinus sp.) e Bétula (Betula sp.), com suas próprias ferramentas, sendo aplainada, serrada e descompactada.

Finalmente, a polícia notou que o assoalho do sótão da casa estava faltando um pedaço de madeira.

Estudos sobre o padrão de crescimento dos anéis revelaram que era exatamente o da madeira da escada usada no crime.

O Caso Mércia Nakashima

Esse é um caso brasileiro que aconteceu em 2010, onde a advogada Mércia Nakashima foi afogada, trancada dentro do carro, na represa de Nazaré Paulista.

Um suspeito do crime era Mizael Bispo de Souza, ex-namorado de Mércia.

Em meio às investigações foi encontrado lodo preso à sola dos sapatos de Mizael e no tapete de seu carro algas verdes.

O biólogo e professor Dr. Carlos Eduardo de Mattos Bicudo, especialista em algas, foi convidado para identificá-las.

E, de acordo com ele, havia 90% de probabilidade de pertencerem ao gênero Stigeoclonium.

Essas algas crescem entre 20 e 50 cm de profundidade em lagos de água doce, necessariamente aderidas a algum substrato, como lodo ou pedras.

E segundo o especialista, a única maneira de aquelas algas estarem no sapato de Mizael seria se ele tivesse entrado na água.

Além disso, elas estavam nos sapatos e tapete por um tempo compatível com o dia do assassinato, pois as algas são delicadas e teriam se estragado completamente se tivesse passado mais de três semanas.

Ainda, aquelas algas sabidamente cresciam ali, pois haviam sido coletadas anos antes naquela mesma represa pela equipe de Bicudo em um estudo financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para estudar as algas do Estado de São Paulo (Olha a importância da ciência básica!!!).

Como se tornar um botânico forense

A botânica forense ainda é uma área pouco explorada.

Assim, a maioria das pessoas que trabalham com botânica forense são biólogos com especialização em uma das áreas da botânica.

Existem muitos laboratórios privados especializados em diferentes análises biológicas que podem empregar botânicos forenses.

Assim como grandes empresas de consultoria ambiental e/ou perícia ambiental podem contratar botânicos forenses com determinadas especialidades, para atuar em casos que envolvam ameaças ao meio ambiente e saúde publica, bem como à flora.