Continuando o passo a passo de construir um herbário, já falamos aqui as atividades de campo e hoje vamos descrever as atividades de laboratório.

Após a coleta, prensagem e identificação é hora de retornar ao laboratório para terminar seu herbário.

O próximo passo na construção do seu herbário é a secagem das plantas que você coletou.

Então vamos lá!

Secagem

É necessário uma estufa.

É basicamente uma caixa de madeira com quatro apoios e uma fonte de calor.

Normalmente lâmpadas incandescentes (60 W) distribuídas no fundo da caixa.

E uma grade de metal sobre as lâmpadas (distantes delas cerca de 20 cm) para receber as prensas.

As prensas são colocadas em estufa, à temperatura de aproximadamente 60°C, onde permanecem até que o material esteja completamente desidratado.

O tempo de permanência da prensa na estufa depende do material botânico prensado.

Para a maior parte dos materiais botânicos, o tempo de permanência é de cerca de 72 horas.

Mas e se eu não tiver uma estufa?

No caso de uma secagem sem estufa, a prensa deverá ser colocada em local ensolarado, ventilado ou próximo de uma fonte de calor.

E neste caso, os jornais devem ser trocados uma vez por dia, pelo menos, para tentar prevenir o ataque de fungos.

Nunca deixe o material sob sereno.

Situações excepcionais

Em situações excepcionais, como muitos dias de coletas sem acesso a estufa, todo o material prensado deve ser molhado com álcool comercial e a prensa deve ser colocada dentro de um saco plástico vedado.

Essa técnica permite a conservação dos espécimes por semanas.

No entanto, o álcool pode inviabilizar o material botânico para estudos de biologia molecular e, por isso, o seu uso deve ser evitado.

Se utilizada essa técnica, essa informação deve ser anotada no caderno de coletas, junto às demais informações.

E posteriormente transcrita para a etiqueta que acompanha cada espécime na coleção.

Montagem

Após a secagem, você vai começar a montagem para a sua inclusão na coleção.

Lembra que você coletou mais ou menos 5 cópias de cada espécie?

Agora é hora de escolher a que ficou melhor (coleta e prensagem) para representar a espécie na coleção.

A cópia escolhida é costurada em papel cartão (300 g) de cor branca (denominado “blusa”), com 42 cm de comprimento por 29,5 cm de largura.

A costura consiste em nós feitos com linha de cor branca (tipo extra forte, número 0, 100% algodão).

E agulha para costura manual (número 0 ou 5 cm x 1 mm) em alguns pontos do material.

Evita-se, assim, sua queda ou quebra ao manusear o papel cartão.

Se alguma porção da planta se soltar, ela deve ser colocada dentro de um envelope, que é colado ao canto superior esquerdo do papel cartão.

herbário

As etiquetas

No canto direito inferior é colada uma etiqueta com os dados do caderno de coletas transcritos para ela.

Essa etiqueta tem 12 cm de comprimento por 10 cm de altura e apresenta no cabeçalho o endereço e a sigla do herbário.

As demais cópias do número de coleta são colocadas juntas dentro de um jornal com as mesmas dimensões do papel cartão.

E acrescentam-se às cópias etiquetas soltas e idênticas à anterior.

O jornal contendo as plantas e etiquetas ficam no dorso do papel cartão.

O conjunto montado

O papel cartão com a planta costurada e as suas cópias em jornal é envolvido por papel Kraft (80 g; denominado “saia”) com 59 cm de comprimento por 42 cm de largura.

Do lado externo do papel Kraft, no canto direito superior, escreve-se o número de registro da planta.

E no canto direito inferior o nome da espécie.

Finalizada a montagem, o material costurado no papel cartão denomina-se exsicata.

E suas cópias denominam-se duplicatas, que são utilizadas nos intercâmbios entre herbários.

Não é recomendado o uso das exsicatas nesse intercâmbio, exceto quando elas se tornam unicatas (sem duplicatas).

As unicatas só são enviadas para outros herbários em casos excepcionais.

Pois não se pode perder nenhum material depositado em herbários.

Identificação

A identificação do material botânico seco deve ser feita antes de sua inclusão no acervo.

Pelo menos em nível de família ou gênero.

Para tanto, utiliza-se a bibliografia especializada e com chaves taxonômicas.

Antes do manuseio do material, em especial das suas flores (essenciais para a identificação), é necessário ferver algumas delas em mistura de água com gotas de detergente, por alguns minutos, para reidratá-las, facilitando a sua dissecação em lupa.

Nesse caso, retiram-se flores das duplicatas, nunca da exsicata.

Um procedimento complementar ao descrito anteriormente é a busca do material identificado em outros acervos, para reafirmar a sua identidade.

Isso pode ser feito em consultas realizadas no computador, pois diversos herbários disponibilizam imagens de exsicatas com elevada qualidade, o que permite a análise de vários caracteres morfológicos.

Alguns herbários tem coleção virtual, por exemplo o New York Botanical Garden, o Royal Botanic Gardens Kew e o do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

E se eu não conseguir identificar?

Quando não é possível fazer a identificação completa, é comum o envio para um especialista do grupo taxonômico de interesse.

Uma forma de se encontrar esse especialista é por meio do Index Herbariorum.

O material enviado geralmente fica como doação para o herbário, no qual o taxonomista que irá identificá-lo está vinculado.

Por isso é importante ter cópias.

Outro banco de dados interessante de usar na hora da identificação é o Índice Internacional de Nomes de Plantas (IPNI).

Nele é possível acompanhar mudanças, descobertas novas, nomes e bibliografias básicas.

Além dele, temos também um banco de dados para as espécies de plantas nativas brasileiras, o Lista de Espécies da Flora do Brasil.

Nele é possível encontrar informações sobre a flora nacional, fornecidas por mais de 500 taxonomistas, brasileiros e estrangeiros.

Além disso, para muitas plantas podem ser encontradas informações sobre os nomes populares e fotos.

Registro de exsicatas

Toda exsicata, antes de ser incorporada ao acervo, deve ser tombada, registrando-a no “caderno de registro” do herbário.

O registro consiste em dar um número único e intransferível à exsicata (o caderno é organizado por numeração arábica crescente).

O último número do caderno corresponde ao de espécimes depositados na coleção.

Junto ao número são acrescentadas, no caderno de registro, as seguintes informações: família, gênero, espécie, nome(s) do(s) coletores, data e local da coleta.

O número acompanha a exsicata permanentemente, que é referida, por exemplo, por VIC 01 (o primeiro espécime do Herbário VIC), VIC 17 (o décimo-sétimo espécime do VIC), etc.

É dessa maneira que o material testemunho, quando depositado em herbário, deve ser mencionado na publicação de um artigo científico.

Junto à exsicata, esse número de tombamento aparece na “blusa”, próximo à etiqueta, no espaço interior do carimbo do VIC.

Armazenamento e preservação da coleção

Antes de serem armazenadas, as exsicatas passam pelo primeiro expurgo.

Isso serve para a eliminação de quaisquer agentes que possam danificar o material.

Para tanto, os espécimes são colocados em sacos plásticos vedados e mantidos por alguns dias (de dois a cinco) no freezer (expurgo por congelamento).

Durante o armazenamento, as exsicatas são organizadas, seguindo a sistemática de cada herbário.

Normalmente em prateleiras dentro de armários de aço hermeticamente fechados, com padrão de tamanho internacional (por isto as dimensões da “saia” e da “blusa” devem ser obedecidas rigorosamente).

Esses armários podem ser fixos  ou instalados sobre trilhos, visando ao aproveitamento do espaço dentro dos acervos.

Em herbários de regiões tropicais, como os do Brasil, os cuidados com a coleção devem ser redobrados.

Há possibilidades de injúrias no material por ataque de insetos (larvas de besouros, piolho dos livros, traças), de ácaros e fungos, principalmente onde a umidade do ar e temperatura são elevadas.

Os insetos são particularmente danosos às flores e aos caules novos e são, sobretudo, atraídos pelas plantas das famílias Asteraceae, Brassicaceae, Fabaceae, Apiaceae e Apocynaceae.

Uma medida preventiva ao ataque de insetos e fungos é a manutenção de um ambiente controlado no interior do acervo.

Para isso, o herbário deve ser mantido sempre fechado, sem frestas, e climatizado, isto é, com baixas temperatura e umidade do ar (abaixo de 20°C e 45%, respectivamente).

Mesmo assim, o trabalho de controle de pragas é dinâmico, pois continuamente são depositados novos espécimes no acervo.

Por isso, as inspeções da coleção são rotineiras e, se houver indício de quaisquer injurias em exsicatas, utilizam-se métodos de combate: congelamento ou expurgo com produto químico.