Quando se fala em funções das folhas, qual é a primeira coisa que você pensa?

Respiração? Transpiração?

Se você respondeu isso, acertou duas das funções, mas você sabia que tem outras?

As folhas têm funções fisiológicas e funções para a preservação da espécie.

Você consegue imaginar quais são essas funções?

Vamos ver um pouquinho de cada uma delas?

Funções fisiológicas das folhas

Fotossíntese

Nós já explicamos aqui todo processo físico-químico.

De maneira simplificada, a fotossíntese , que ocorre no parênquima clorofiliano (parênquima paliçádico e lacunoso), onde se alojam os cloroplastos, permite transformar a energia luminosa, o dióxido de carbono e a água, em energia química acumulada na forma de glicose e/ou outras moléculas orgânicas.

A representação esquemática a seguir exibe um corte transversal do limbo foliar, destacando as principais estruturas que o compõe: cutícula, epiderme, parênquima paliçádico, parênquima lacunoso, epiderme, cutícula e estômato.

O estômato é formado por células diferenciadas presentes nas epidermes, cuja principal função é estabelecer a comunicação do ambiente com o interior da planta, proporcionando que outras duas funções da folha, sejam realizadas: as trocas gasosas e a transpiração.

Trocas gasosas

Ocorrem por meio dos estômatos, responsáveis por controlar a entrada e a saída dos gases atmosféricos por meio de uma fenda estomática, o ostíolo, que se abre quando exposto a luz, e se fecha em sua ausência.

Uma visão altamente ampliada de um único estômato na folha de um lírio-barco (Tradescantia spathacea). O estômato abre e fecha em resposta às mudanças nos níveis de dióxido de carbono e umidade. Crédito: Douglas Clark

A abertura e o fechamento dos estômatos também ocorrem em função da alteração da turgescência das células guardas, cujas paredes são mais espessas na região do ostíolo, determinando sua abertura quando essas estão túrgidas e, fechamento quando murchas.

Transpiração

Realizada pela cutícula com intensidade constante e pelos estômatos, de forma variável, na dependência da abertura e fechamento do ostíolo, evitando perdas excessivas e desnecessárias de vapor de água.

Em ambientes extremamente úmidos, em determinados períodos, a transpiração das plantas é lenta.

Ou, muitas vezes ausente, e por essa razão, podem sair em forma de gotas ou de suor pelas folhas, água e sais na forma líquida através de poros denominados hidatódios.

A: Figura representativa do processo de gutação realizado pelos hidatódios; B, C e D: gutação em folhas de diferentes espécies. Almeida, M.; Almeida, C. V. Morfologia da folha de plantas com sementes. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.

A esse processo dá-se o nome de gutação que ocorre principalmente durante a noite, quando as temperaturas são mais baixas e a umidade relativa do ar é mais elevada.

Funções de preservação da espécie das folhas

As inúmeras adaptações dos vegetais aos diferentes ambientes, constantemente no processo evolutivo, resulta em pequenas ou grandes transformações, aumentando as chances de sobrevivência.

Ajustes morfológicos e fisiológicos decorrentes dessas mudanças, resultam na grande diversidade de plantas existentes no planeta.

As diferenças morfológicas são visíveis por toda planta mas, muito mais expressivas nas folhas, onde observamos a presença de espinhos, cores variáveis, formatos e tamanhos distintos.

A essas mudanças denominamos metamorfose foliar foliar, e é com base nessas diferenças que as folhas são responsáveis pela preservação das espécies.

Reprodução

Sépalas e Pétalas são folhas modificadas que originam as peças florais estéreis, com função de proteção do botão floral (sépalas) desde sua formação até a abertura da flor (antese), além de atuarem como “atrativos” de agentes polinizadores em função de suas cores e odores (pétalas).

Estames e Pistilos também são folhas modificadas que originam as peças florais férteis.

Já a folha estaminal forma o estame, constituído pelo filete e pela antera, e tem a função de produção de grãos de pólen (masculino).

Enquanto que a f olha carpelar origina o pistilo, constituído pelo ovário, estilete e estigma, com função de produção dos óvulos (feminino).

As brácteas são folhas modificadas presentes em inflorescências uni ou plurifloras que, da mesma forma que as sépalas, as protegem desde a fase de botões florais até a abertura das flores (antese).

Ou, semelhante às pétalas quando coloridas, também atraem polinizadores, contribuindo consideravelmente para a perpetuação da espécie.

Dispersão

Algumas espécies de plantas apresentam folhas carpelares (folha fértil feminina) que ao se desenvolver em frutos apresentam uma expansão aliforme (frutos alados).

Um exemplo disso é o fruto da sâmara, que, se aproveitando do vento proporciona um “voo” em movimentos elípticos, lembrando a hélice de um helicóptero, o que lhe permite percorrer grandes distâncias.

 

Outro caso de dispersão é observado no fruto do picão, onde a folha carpelar ao se desenvolver em fruto formam os papilhos, pequenos “ganchos”, que se prendem aos pelos dos animais, onde permanecem por longos períodos até serem liberados.

Além do picão, destacamos também a língua de vaca, cujos frutos formam “pompons brancos”, e estes, por apresentarem papilhos plumosos, ao serem liberados são transportados pelo vento.

A: Infrutescência de língua de vaca (“pompons”) no momento da liberação dos frutos (seta branca); B: fruto isolado evidenciando o papilho plumoso
Almeida, M.; Almeida, C. V. Morfologia da folha de plantas com sementes. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.

Outra estratégia de dispersão das folhas metamorfoseadas é a presença de tricomas na superfície do fruto, os quais aderem aos pelos de animais ou roupas como um “velcro” ou “espinhos”.

Reserva

As folhas metamorfoseadas (catáfilos) presentes nos bulbos armazenam água e reservas nutricionais, acrescentando assim, mais uma função das folhas.

Há também folhas modificadas em escamas, as quais protegem os bulbos contra dessecamento.

Bulbos de cebola e alho evidenciando as folhas metamorfoseadas, também chamadas de escamas para proteção (setas azuis) e os catafilos de reserva (setas pretas). Almeida, M.; Almeida, C. V. Morfologia da folha de plantas com sementes. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.

Proteção contra herbivoria

A plasticidade das plantas ocorre em função de sua capacidade adaptativa resultante de inúmeras estratégias de defesa desenvolvidas ao longo da evolução.

A recuperação de tecidos injuriados, a produção de metabólitos com ação repelente, urticante ou toxinas, os protege contra o ataque de animais de diversos grupos do reino, incluindo o homem.

Espinhos

Os espinhos são na verdade folhas ou ramos que se transformaram em estruturas pontudas e duras, como acontece em plantas de citros.

Eles ajudam a proteger as plantas, dificultando a aproximação de predadores e reduzindo a perda de água.

Tricomas

Os tricomas são pequenas estruturas que aparecem na parte aérea das plantas, formadas por células especiais.

Têm duas funções principais: defesa e proteção.

Tricomas Glandulares

A: pinhão roxo (Jatropha gosypiifolia) ; B: pepino Almeida, M.; Almeida, C. V. Morfologia da folha de plantas com sementes. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.

Produzem substâncias químicas que podem ser irritantes para animais, como acontece com a urtiga.

Alguns liberam aromas agradáveis que atraem polinizadores.

Plantas como eucalipto e lavanda usam tricomas para produzir óleos essenciais importantes na indústria.

Tricomas Tectores

Parecem pelos e ajudam na proteção das folhas, tornando difícil para os predadores se locomoverem sobre elas.

Também protegem contra o sol e mantêm a temperatura interna da planta.

As folhas podem ter uma “cobertura” chamada indumento, que pode ser mais ou menos densa.

Existem quatro tipos de indumento:

Lanoso: Cobertura espessa como lã.

Piloso: Tricomas distribuídos ao longo das nervuras.

Espinescente: Tricomas pontiagudos como espinhos.

Glabra: Folhas lisas, sem tricomas.

Essas características ajudam as plantas a se protegerem e a conservarem água, tornando-as mais adaptáveis ao ambiente.

Outras funções das folhas

Fixação

Maracujazeiro evidenciando as gavinhas em forma de mola com função de fixação da planta (setas). Almeida, M.; Almeida, C. V. Morfologia da folha de plantas com sementes. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.

Folhas modificadas  que formam estruturas semelhantes a molas, ventosas, garras ou ganchos, chamadas gavinhas, ajudam na fixação de plantas trepadeiras, permitindo que elas se prendam a suportes.

Acúmulo e absorção

Folhas em formas arquitetônicas que proporcionam o acúmulo de água, formando “pocinhos” ou “tanques” .

As setas evidenciam os “pocinhos” ou “tanques” que acumulam água e nutrientes nas folhas de bromélias. Almeida, M.; Almeida, C. V. Morfologia da folha de plantas com sementes. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.

Como por exemplo, os localizados na base interna das folhas de bromélias.

Facilitam a absorção tanto de água como de nutrientes e maximizam a capacidade de produção de propágulos (clones).

Armadilhas para animais

O exemplo mais comum de folhas modificadas para armadilhas são as plantas insetívoras, ou popularmente carnívoras.

Algumas espécies apresentam folhas modificadas que secretam substâncias viscosas, que “agarram” ou “aprisionam” pequenos animais.

 

Outras em forma de jarro, como a Nepenthes, possuem uma “tampa” que ao toque dos animais, se fecha impedindo sua saída.

Essas plantas produzem enzimas que são liberadas para degradar as proteínas do exoesqueleto de suas “presas”, disponibilizando nitrogênio para a planta.

Estrutura de flutuação

Folhas adaptadas para flutuação, permitindo que a planta permaneça à superfície da água.

Como por exemplo, o aguapé, que o pecíolo desenvolve aerênquima (tecido de reserva de ar) promovendo a flutuação da planta.

Propagação

Função importante para a perpetuação das espécies, algumas folhas desenvolvem gemas adventícias que se destacam e originam um novo indivíduo.

Propagação a partir da folha. Violeta (A); Chacrona (B) e crassulácea (C). Propágulos (setas vermelhas), raízes (setas azuis). Almeida, M.; Almeida, C. V. Morfologia da folha de plantas com sementes. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.

 

Almeida, M.; Almeida, C. V. Morfologia da folha de plantas com sementes. Piracicaba: ESALQ/USP, 2018.