O peixe diabo negro (Melanocetus johnsonii), também chamado de rape abissal, ficou conhecido por aparecer no filme de animação Procurando Nemo, como Luzinha.

Na história, ele é um predador gigante que usa um apêndice luminoso para atrair suas presas.

Mas na vida real, o peixe diabo negro é muito menor do que o retratado no filme.

Os machos da espécie têm cerca de 3 centímetros de comprimento, enquanto as fêmeas podem chegar a 20 centímetros.

Encontrado em águas abissais, esse animal desafia as condições extremas de escuridão, pressão elevada e temperaturas próximas de zero, adaptando-se de maneira extraordinária ao seu ambiente hostil.

Recentemente foi feito o primeiro registro do peixe diabo negro na superfície do mar, á luz do dia.

A aparição do peixe diabo negro na superfície é rara e atípica, já que ele vive em águas abissais, mas pode estar associado a fenômenos oceanográficos como correntes ascendentes que arrastam criaturas das profundezas, redes de pesca em águas profundas ou exploração submarina ou ainda a morte do animal,  já que seu corpo adaptado à alta pressão pode inchar e subir passivamente.

É um evento intrigante, mas muitas vezes sinaliza impactos ambientais ou a fragilidade desses ecossistemas pouco estudados.

O diabo negro integra a família Melanocetidae, com cerca de 20 espécies descritas.

Sua distribuição é global, habitando regiões entre 1.000 e 4.000 metros de profundidade, principalmente em oceanos tropicais e temperados.

Sua presença é mais frequentemente detectada por veículos submarinos ou capturas acidentais em redes de arrasto.

Com tons escuros (negro ou marrom) para camuflar-se na escuridão, seu corpo é globoso, com uma boca larga, dentes afiados e estômago expansível, permitindo engolir presas maiores que seu tamanho.

Bioluminescência: A isca luminosa

A característica mais icônica é a esca, um apêndice sobre a cabeça que emite luz graças a uma relação simbiótica com bactérias bioluminescentes (como Vibrio spp.).

A luz azul-esverdeada (comprimento de onda ideal para penetração na água) atrai presas curiosas, como pequenos peixes e crustáceos, até a proximidade de suas mandíbulas poderosas.

Assim, como predador de emboscada, o diabo negro permanece imóvel, agitando suavemente a esca.

Quando a presa se aproxima, ele a suga com um movimento rápido (em menos de 1/6.000 de segundo), graças a músculos especializados.

Sua dieta inclui organismos das profundezas, como lulas e copépodes.

O acasalamento é um dos processos mais bizarros do reino animal.

Isso porque o macho, incapaz de se alimentar sozinho, localiza a fêmea por feromônios e fixa-se nela com dentes especializados.

Dessa forma, seus tecidos e sistemas circulatórios se integram, e o macho passa a depender totalmente da fêmea para nutrição, enquanto fornece esperma continuamente.

A fêmea libera ovos fertilizados em uma massa gelatinosa que flutua na coluna d’água até a eclosão.

Outra curiosidade é que o peixe negro diabo se movimenta pouco para conservar recursos em um ambiente com alimento escasso.

Além disso, proteínas e membranas celulares adaptadas suportam pressões equivalentes a 400 vezes a atmosférica.

Importância Ecológica

Como predador apical, regula populações de organismos mesopelágicos, contribuindo para o equilíbrio do ecossistema.

Além disso, sua bioluminescência oferece insights valiosos para biotecnologia, como estudos sobre simbiose e enzimas resistentes à pressão.