A temática do lixo, reciclagem e conscientização ambiental fazem parte do conteúdo de Ciências e Biologia, e da realidade dos alunos e da sociedade como um todo.

Quantas vezes você já ouviu: “lugar de lixo é no lixo” ou “jogue limpo com a cidade”, ou “colabore com a limpeza”?

Pois é, o tratamento que damos ao nosso lixo tem recebido crescente atenção.

Aumentou muito a discussão em torno das alternativas para o gerenciamento dos resíduos sólidos, especialmente nas grandes cidades, e cresceu assustadoramente o trabalho de educação ambiental na área de reciclagem.

Mas será que qualquer coisa que envolva reciclagem pode ser considerado educação ambiental?

Atividades sem um embasamento conceitual trás mesmo algum benefício?

Coisas que as pessoas fazem achando que é educação ambiental

Sob o aspecto conceitual, educação ambiental virou sinônimo de tudo.

Concurso de esculturas em sucata, é educação ambiental.

Distribuição de sacos para lixo no parque é educação ambiental.

Gincana escolar para arrecadar recicláveis é educação ambiental.

Há uma confusão generalizada entre fins e meios.

Em termos de conteúdo, o trabalho educativo tem enfocado a reciclagem como a solução para os males do consumismo moderno.

A reciclagem de materiais sem dúvida deve fazer parte das discussões e das ações da escola.

Mas a reciclagem é um processo industrial que, como qualquer outro, consome recursos naturais, gasta energia e também gera resíduos.

Afinal, o que é mais sensato: tomar cerveja de uma garrafa retornável, que após o descarte será apenas esterilizada e preenchida inúmeras vezes, ou de uma latinha de alumínio, que precisará ser derretida e refeita?

A questão não é a de nos preocuparmos apenas em separar para reciclagem um copinho ou canudo plástico.

Antes disso, a reflexão é se precisamos mesmo usar esses produtos em primeiro lugar.

Uma educação que pretende ser realmente ambiental, portanto, não coloca a possibilidade de reciclagem como uma justificativa para o consumo (consumismo!) de supérfluos típico da sociedade urbano–industrial.

Muitas vezes em troca de ‘motivação’ surgem projetos que propõem o incetivo sob forma de troca.

O que você quer para cuidar do seu lixo e separá-lo?!

Em alguns lugares trocam-se vales, brindes ou brinquedos por recicláveis.

Sob a maquiagem verde da preservação ambiental, empresas incrementam o consumo de suas embalagens ao prometer equipamentos para as escolas que juntarem certa quantidade de cada material.

E muitas escolas entram na onda do “separa e vende” achando que é um bom projeto de educação ambiental.

Campanhas ou conscientização?

Do ponto de vista metodológico, a educação ambiental em moda tem mostrado uma série de tendências.

Supervaloriza a eficácia de campanhas de conscientização.

Uma campanha envolve um esforço concentrado de energia e recursos, empolgando às vezes muita gente, porém por pouco tempo.

A campanha serve para “dar corda” nas pessoas.

Mas a menos que o estímulo inicialmente externo se interiorize, o impulso morre, não deixando nenhum vestígio de mudanças de comportamento.

A conscientização, por sua vez, valoriza os aspectos cognitivos da aprendizagem, ou seja, a aquisição e transferência de conhecimentos.

Mas a consciência basta para mudar hábitos?

O fumante não está consciente de que fumar faz mal? (Ele larga o vício por causa disso?).

As pessoas não estão informadas sobre os riscos e mecanismos de transmissão da AIDS? (Quantas chegam a usar preservativos?).

O brasileiro habilitado não conhece as normas de segurança de trânsito? (Ou será que precisamos de mais uma cartilha para conscientizar o motorista e diminuir o índice de acidentes no país?).

Afinal, não sabemos todos que jogar lixo na rua é errado?

As campanhas de conscientização, além de tudo, muitas vezes são incoerentes.

Muitas se sustentam na mera distribuição de folhetos, brindes e adesivos, que desperdiçam recursos e … geram mais lixo.

Já um programa de sensibilização garante outros resultados.

Só sentimentos e valores alteram atitudes.

O grande desafio de qualquer proposta educativa é motivar as pessoas.

Que tipo de educação queremos?

A que enaltece nosso “jeitinho” de levar vantagem individual em tudo?

A que julga poder comprar cidadania com prêmios e brindes?

Infelizmente o que temos observado são programas “de reciclagem” que minimizam a pessoa humana, e não o lixo, e que praticam uma educação completamente descartável.

A inserção da temática meio ambiente nas escolas deve conduzir uma reflexão sobre novas posturas em relação aos aspectos sociais, econômicos e ambientais.

E dessa forma tomar decisões adequadas a cada passo na direção de metas desejada por todos, o crescimento cultural, a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental.

É um processo contínuo de aprendizagem de conhecimento e exercício de cidadania.

Mas então, o que fazer em sala de aula?

Uma das possibilidades de sair de uma discussão superficial e que pouco acrescenta é utilizar situações problemas como estratégia para desenvolver os assuntos relacionados à meio ambiente.

Uma situação-problema é uma situação didática, na qual se propõe ao sujeito uma tarefa que ele não pode realizar sem efetuar uma aprendizagem precisa.

Tal aprendizagem, que constitui o verdadeiro objetivo da situação-problema, se dá quando o sujeito transpõe o obstáculo na realização da tarefa.

Deve ser ajustado ao nível e possibilidades dos estudantes e despertar o interesse pela busca da resolução.

Exemplo de situação problema sobre reciclagem

O prefeito de uma cidade no interior do estado observou que nos últimos anos houve uma crescente produção de lixo ocasionada pelos moradores de sua cidade. Tendo já este problema gerado muitas doenças e um enorme prejuízo aos cofres públicos, pensou em resolvê-lo. Para que o prefeito consiga acabar com essa questão social complexa é necessário uma correta conscientização desta população e controlar a produção do lixo local, mas como orientar a população a mudar suas atitudes e quais as possíveis formas de tratamento para o lixo?” 

Os alunos podem ser divididos em grupos para buscarem uma solução para o problema.

A intenção é que eles consigam propor alguma ação que resolveria tal situação.

Você pode acrescentar informações e dicas de acordo com quais conteúdos pretende atingir.

É interessante discutir as ideias dos grupos, compará-las,  e corrigir o que tiver de conceitualmente errado.

Tornar o aluno autor do aprendizado traz melhores resultados do que apenas uma conscientização ou gincana.

Para saber mais sobre situação problema leia o capítulo 5 do livro “As Competências para Ensinar no Século XXI“.

E um ótimo livro para guiar as práticas de educação ambiental é o “Educação Ambiental: Princípios e Práticas“.