Com a maior pandemia dos últimos 100 anos, começou também a corrida para a produção de uma vacina.

Com isso, há 169 candidatas à vacinas para a covid-19, as quais utilizam as mais variadas tecnologias.

Desde as convencionais às mais inovadoras, como por exemplo as vacinas de mRNA e de DNA.

De todos esses estudos em desenvolvimento, alguns se destacaram e ganharam ampla divulgação mundial.

E você? Conhece as principais vacinas contra a covid-19?

Para falarmos das principais vacinas, vamos começar relembrando que vacinas agem desencadeando uma reação imune fisiológica.

Ou seja, provoca nosso organismo a desenvolver a imunidade, sem que o indivíduo tenha que se expor aos riscos da infecção natural.

Nós já falamos disso aqui.

Sabemos que existem vários métodos para desenvolver vacinas.

E conforme o método utilizado as vacinas são divididas em três gerações tecnológicas que se baseiam:

1) na presença do agente infeccioso inteiro na forma inativada/atenuada;

2) em partes ou proteínas do agente infeccioso especialmente imunogênicas e;

3) em sequências de genes do agente infeccioso de interesse.

Mas o que são gerações de vacinas?

Vamos entender melhor!

Vacinas de 1ª Geração

São vacinas produzidas a partir de agentes infecciosos inativados ou atenuados.

Seu processo de cultivo se dá em culturas de células.

Depois, se o objetivo for uma vacina atenuada o processo é feito por meio de passagens sucessivas em culturas de células vivas durante muitos meses.

E se o objetivo for uma vacina inativada, o vírus é morto quimicamente e fragmentado.

Para ambas as boas práticas de fabricação são ponto fundamental para a segurança e a eficácia de vacinas.

Já que é o que garante que haja homogeneidade em um mesmo lote e entre lotes.

São vacinas com excelente poder imunogênico.

Porém seu processo de obtenção, no caso dos produtos de vírus atenuados, é obrigatoriamente lento e oneroso.

São exemplos de vacinas de 1ª geração: pólio, sarampo, varíola, varicela, rubéola, gripe.

Vacinas de 2ª Geração

São vacinas produzidas a partir de antígenos do agente infeccioso.

Assim, a indução de imunidade se fará a partir desses antígenos.

E pode acontecer por meio de uma toxina produzida pelo agente infeccioso ou um açúcar que compõe a membrana do agente infeccioso, permitindo assim, a sinalização do “invasor” ao sistema imunológico do indivíduo.

Esses antígenos podem ser obtidos por processos de engenharia genética, o que permite que o processo seja escalado com rapidez.

O poder antigênico do imunizante é geralmente potencializado por substâncias adjuvantes que são adicionadas à vacina.

São exemplos de vacinas de 2ª geração: Hepatite B, Coqueluche e a Meningite B.

Vacinas de 3ª Geração

Também conhecidas como vacinas de DNA ou de mRNA (RNA mensageiro).

Não utilizam qualquer parte do agente infeccioso.

Utilizam apenas sequências de genes contendo as instruções para a replicação de um antígeno imunizante no organismo humano.

Essas sequencias de genes podem ser incluídas em plasmídeos construídos por meio de engenharia genética.

Ou ainda introduzidos em carreadores virais, geralmente adenovírus inofensivos.

As células humanas que recebem esse material começam a produzir os antígenos, que, por sua vez, desencadeiam o processo de imunidade.

São vacinas inovadoras, cujos pontos fortes são a redução de eventos adversos em curto prazo.

E também a possibilidade de reduzir etapas de desenvolvimento obtendo um produto viável mais rapidamente.

Por serem vacinas muito novas, ainda não se sabe sobre sua segurança no longo prazo.

E não há exemplos de vacinas de 3ª geração em uso em humanos.

Agora que já relembramos pontos importantes sobre as vacinas, vamos falar um pouco sobre as principais vacinas para a Covid-19.

Principalmente aquelas que possivelmente serão utilizadas em território brasileiro.

Vacina CoronaVac (Butantan)

É a vacina desenvolvida pelo laboratório SinovacLife Sciences Co. Ltd em sociedade com o Instituto Butantan.

É uma vacina de vírus inativado.

Ou seja, o vírus é cultivado em laboratório para que possa ser morto quimicamente depois.

Assim, uma dose de vacina geralmente contém cerca de 10 partículas de vírus.

Em linguagem simples, é basicamente feita de pedacinhos do vírus morto.

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É uma vacina desenvolvida em cima de uma outra já existente para SARS COV 1, que ocasionou uma epidemia em 2002.

Recentemente, o Instituto Butantan divulgou os resultados preliminares dos estudos de fase 3, que aconteceram no Brasil.

O resultado foi a redução de 78% nos casos de COVID-19 leve e 100% de redução de casos de morte, doença moderada ou grave ou necessitando de internação.

Assim a eficácia da vacina  nos estudos aqui no Brasil varia de 78% a 100%.

Os resultados globais, que consideram os estudos em outros países também, são de 50,38% de eficácia.

Mas o que significa na prática esse resultado de eficácia?

Significa que ao tomar a vacina você tem 50% de chances de não desenvolver a doença.

Mas caso desenvolva, tem 78% de chances de não precisar de atendimento médico.

Ou seja, você pode desenvolver a doença de maneira assintomática.

E tem 22% de chances de ter algum sintoma leve como febre e dor de cabeça.

Além disso, significa também que você não desenvolverá a doença em estágio grave.

Ou seja, não precisará ficar internado ou ser intubado!

Além disso, um outro ótimo resultado é não apresentou nenhuma reação adversa além de dor local, dor de cabeça leve e cansaço.

O que já é comum em outras vacinas conhecidas.

A vacina deve ser administrada pela via intramuscular, em duas doses com 2 semanas de intervalo para pessoas acima de 16 anos.

E a conservação é em refrigerador comum de 2 a 8 ºC.

A vacina já havia sido aprovada para uso emergencial na China, sendo distribuída para grupos de alto risco.

Foi liberada pela ANVISA para uso emergencial e já está em distribuição.

Vacina AZD1222 (Oxford ̸ AstraZeneca)

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É a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica britânica AstraZeneca.

Teve colaboração da Fiocruz e é a grande aposta do governo federal.

Esta vacina utiliza um vetor viral (adenovírus) de chimpanzé chamado ChAdOx1.

Ao qual é acoplada a porção imunogênica do novo coronavírus (sua espícula).

Este vetor viral tem sido geneticamente modificado para dar instruções às células, para fabricar a proteína S (Spike).

Assim, essa alteração genética faz com que se pareça com o SARS-CoV-2.

Dessa forma, os cientistas transmitiram ao adenovírus as instruções genéticas para gerar a proteína S, quando a pessoa é vacinada.

A ideia é que, se a vacina pode instruir as células humanas para que fabriquem a proteína S, o sistema humano pode aprender a reconhecê-la e dar uma melhor proteção contra a infecção.

Assim sendo, quando a vacina é inoculada no corpo humano, o sistema imune reage como se fosse o coronavírus, sem o menor risco de contrair a doença.

A vacina foi testada em países como Inglaterra, Índia, Brasil, África do Sul e EUA.

E demonstrou eficácia geral de 70,4%.

Porém também houve 84 eventos adversos graves ocorreram em 168 participantes (DPHIL, M. V. et al., 2020).

Mas o que significa na prática esse resultado de eficácia?

Significa que após a segunda dose de vacina você tem 70% de não desenvolver a doença.

Não há informações sobre qual a gravidade da doença caso se desenvolva.

E também faltam dados sobre a segurança aplicação em pessoas acima de 65 anos.

Sua aplicação consiste em 2 doses, separadas por 4  a 12 semanas de intervalo entre as doses.

Também foi liberado pela ANIVSA para uso emergencial e também está sendo distribuída pelo país.

Vacina mRNA-1273 (Moderna)

É a vacina desenvolvida pela Moderna (Massachusetts, Estados Unidos) junto com pesquisadores do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas e Pesquisa Biomédica Avançada e Autoridade de Desenvolvimento.

É uma vacina de 3ª geração que codifica o antígeno S-2P do SARS-CoV-2.

Ou seja, utiliza o RNA mensageiro para expressar e codificar não apenas antígenos de proteínas do SARS-COV2, mas também para uma RNA polimerase que fornece replicação do RNA após a incorporação nas células.

O que aumenta a produção de antígenos pelo organismo.

A vacina demonstrou eficácia de 94,1%, consistindo em 2 doses com intervalo de 4 semanas entre as doses.

É conservada por 6 meses em freezer a -20° C e por um mês em refrigerador 2 a 8° C.

Canadá, União Europeia, Israel e Reino Unido já garantiram uso emergencial da vacina da empresa Moderna.

Vacina BNT162B2 (BioNTech / Pfizer)

Vacina desenvolvida pela BioNTech (Alemanha) em colaboração com Fosun Pharmaceuticals (Shanghai, China) e Pfizer (Canadá) através do “Project Lightspeed”.

Assim como a vacina da Moderna, também é uma vacina de 3ª Geração.

Ou seja, não contêm partículas do vírus, apenas as instruções para sua replicação nas células da pessoa vacinada.

Dessa forma, é uma vacina de RNA modificado (modRNA) que codifica um antígeno que se liga ao domínio do receptor (RBD) do SARS-CoV-2.

Essa vacina também estava em teste no Brasil, em dois centros, em São Paulo e na Bahia, totalizando cerca de 1.000 voluntários.

E já está sendo utilizado nos Estados Unidos, União Europeia e Japão.

Será administrada duas doses por via intramuscular, com intervalo de 21 dias entre elas.

Mas necessita estocagem em cadeia de frio profundo a menos de -70° C.

Sua eficácia foi de 95% nas condições da pesquisa.

E os voluntários experimentaram efeitos colaterais leves a moderados.

Vacina Sputnik V

É uma vacina desenvolvida pelo Gamaleya National, Centro de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia, que é parte do ministério da saúde da Rússia.

É uma vacina que combina dois adenovírus: o Ad5 e Ad26.

Ambos desenvolvidos com um gene de coronavírus.

Terá duas versões: congelada e liofilizada.

Assim, tem vetores virais diferentes o vetor rAd26 (congelada) e formulações baseadas em vetor rAd5 (liofilizadas).

Não há muitas informações sobre a vacina, pois os dados não foram publicados em periódicos e/ou revisados por pares.

Em dezembro de 2020 foi anunciada parceria com a Universidade de Oxford para estudos conjuntos utilizando as duas vacinas em esquema de associação, em vista de suas características similares (vacinas de vetor).

Aguarda autorização da Anvisa para testes no Brasil.

Covaxin (Biotech)

Vacina desenvolvida pela Bharat Biotech (Índia) em colaboração com a Thomas Jefferson University of Filadélfia, Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR) e Instituto Nacional de Virologia (Pune, Índia).

Essa vacina foi desenvolvida com a vacina antirrábica desativada existente como um veículo para as proteínas do coronavírus.

Também trabalha com a forma inativada do vírus.

Alcançou eficácia de 91,4%.

É uma vacina para uso intramuscular em duas doses e pode ser conservada em temperatura ambiente.

Recebeu registro na Índia, em 3/1/2021.

É essa que os planos particulares de saúde tentam buscar para aplicação paralela ao do ministério da saúde.

Ad5-nCoV (CanSino Biologics)

Desenvolvida pela CanSino Biologics (Tianjin, China) em colaboração com o Instituto de Biotecnologia de Pequim na Academia de Ciências Médicas Militares.

É uma vacina que utiliza adenovírus com defeito de replicação tipo 5 como o vetor para expressar a proteína de pico SARS-CoV-2.

Recebeu autorização emergencial na China.

Mas ainda não se tem dados publicados.

 AD26.COV2.S (Johnson & Jonhson)

Ainda em desenvolvimento, é também uma vacina baseada em vetor de adenovírus sorotipo 26 (Ad26).

É uma vacina prevista para ter apenas uma dose intramuscular.

Mas a fabricante anunciou em 16 de novembro o início de um novo estudo para testar a eficácia com duas doses.

Pode ser conservada em refrigeração comum 2° a 8°C.

Ainda não há dados publicados sobre a eficácia.

Todas essas vacinas estão finalizadas?

Assim como todas as vacinas que conhecemos, essas também continuam em estudo mesmo após o registro.

E por que isso é importante?

Tanto para melhorar a eficiência das vacinas quanto para estudar os efeitos em outros grupos de pessoas que não foram contempladas neste primeiro momento.

Ou seja, toda vacina passa por aprimoramento ao longos anos.

“Ah mas essas vacinas foram feitas rápidas demais”.

Certamente você já ouviu isso por aí, né?

Mas você sabe porque foi possível desenvolver vacinas em tempo recorde?

Só foi possível esse rápido resultado graças a investimentos imensos que não acontecem em períodos normais.

Muitas pesquisas levam anos para serem desenvolvidas não por causa do processo de estudos, mas principalmente pelo investimento.

Ou melhor, pela falta de investimento.

Para ter uma ideia, o investimento na ciência brasileira em 2020 foi algo em torno 9 milhões de reais (IPEA, 2020).

Esse valor é dividido entre todas as áreas e todas as pesquisas produzidas por nós.

Enquanto que só a Coronovac teve um aporte do estado de São Paulo de 90 milhões de dólares!

Com investimento ilimitado fica muito mais rápido o caminho!

E nem por isso deixa de ser seguro.

A tão falada imunidade de rebanho só será possível com vacinação em massa.

Mas é importante destacar que isso não acontece imediatamente após você tomar a vacina.

A vacina precisa no mínimo 1 mês após sua aplicação para de fato proteger.

Seu organismo não irá desenvolver imunidade instantaneamente, isso leva algum tempo.

Por isso mesmo após estarmos vacinados ainda precisaremos manter os cuidados e o uso de máscara por algum tempo.