O que passa pela sua cabeça quando você ouve falar sobre fungos?

Defini-los não é uma tarefa fácil devido a extensa variedade de espécies.

Mas uma boa maneira de descreve-los é como organismos eucarióticos, heterotróficos com nutrição absortiva e reserva energética de glicogênio.

Sua estrutura pode ser leveduriforme ou filamentosa e haploide ou dicariótica na maior parte do seu ciclo de vida.

Os filamentos são chamados de hifas e são rodeadas por paredes celulares de quitina.

E geralmente reproduzem-se assexuada e sexuadamente, principalmente por esporos.

Mas qual o papel dos fungos na natureza?

Os fungos são fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas, sendo decompositores primários da matéria orgânica e responsáveis pela reciclagem de nutrientes.

Assim, junto com as bactérias heterotróficas, os fungos são os principais decompositores do planeta, e responsáveis pela decomposição da lignina.

Dessa forma, a decomposição libera dióxido de carbono para a atmosfera e devolve para o solo os compostos nitrogenados e outras substâncias.

E por isso, estes compostos podem ser reutilizados pelas plantas e eventualmente por animais, representando o papel dos fungos para a reciclagem destas substâncias.

Sendo assim, os fungos são fundamentais para a manutenção e equilíbrio dos ecossistemas ao atuarem como “elo” de ligação entre os componentes bióticos e abióticos do meio ambiente.

Entretanto essa função decompositora pode também representar prejuízos para o homem.

Já que pode proliferar em tecidos, tintas, papelões, couros, ceras, combustíveis, petróleo, madeira, papéis, isolamento de cabos e fios, lentes de equipamentos ópticos, ou seja, quase qualquer material concebível.

Isso porque os fungos são equipados com enzimas que quebram moléculas orgânicas, incluindo lignina e celulose, o que os tornam extremamente destrutivos.

Além das espécies saprobiontes, que decompõe matéria orgânica morta, há os fungos simbiontes, que ao se relacionar com outros organismos (mutualismo, parasitismo, etc.), também exercem um papel de extrema importância para a manutenção dos ecossistemas.

Os tipos de relações entre os fungos e outros organismos são extremamente diversos.

Alguns fungos são de suma importância na natureza, pois formam associações mutualísticas do tipo micorriza (com raízes).

Basta lembrar que mais de 90% das plantas formam associações deste tipo e provavelmente muitas árvores não poderiam viver sem estas associações.

Os liquens, muitos dos quais ocupam habitats extremamente hostis, são associações simbióticas entre fungos e células de algas ou de cianobactérias.

Fungos em insetos também podem apresentar simbiose.

Numa dessas relações, os fungos que produzem celulase e outras enzimas necessárias para digerir materiais vegetais são cultivados por formigas em “jardins de fungos”.

As formigas suprem o fungo com pedaços de folhas e gotas que excretam, e se alimentam das partes em crescimento do fungo, mantendo-o em seus ninhos.

Nem o fungo, nem as formigas conseguem viver separadamente.

Esse tipo de relação com fungo também pode acontecer com cupins.

Até mesmo os casos de parasitismo ou predatismo na natureza são importantes, na medida em que os fungos, entomopatógenes por exemplo, fazem o controle populacional de seus hospedeiros.

Este é o caso dos fungos conhecidos tradicionalmente como Cordyceps Fr., que utilizam especificamente espécies de insetos para desenvolver parte do seu ciclo de vida.

Embora pareça trágico ver uma formiga ser atacada por um fungo, como é o caso das formigas ‘zumbis’, não há dano para as espécies envolvidas, pois esta relação ecológica, entre outras, está evolutivamente estabelecida, ajustada e é dependente, no que diz respeito ao equilíbrio das relações.

 

 

 

Outras relações simbióticas envolvem grande variedade de fungos, conhecidos como endófitos, que vivem dentro de folhas ou caules de plantas aparentemente sadias.

Muitos produzem metabólitos secundários tóxicos que parecem proteger seus hospedeiros contra outros fungos patógenos, ataque de insetos e o pastoreio por mamíferos.

E na vida humana?

Se para o ecossistema os fungos tem grandes funções, para nós também se destaca em várias situações.

Os fungos também são de interesse agrícola, seja pelas espécies que beneficiam as plantas aumentando as micorrizas, seja pelas espécies que causam prejuízos deixando plantas doentes.

Como por exemplo, ferrugens do café, da cana-de-açúcar, do milho, do trigo, pragas da batata e várias hortaliças, os carvões, entre outros.

Os fungos ocorrem também como parasitas de animais e do próprio homem, como por exemplo as infestações internas aos tecidos que podem ser mortais ao homem: Pneumocystis P. Delanoë & Delanoë (tipo pneumonia), Coccidioides G.W. Stiles (febre valley), Ajellomyces McDonough & A.L. Lewis (blastomicose e histoplasmose) e Cryptococcus Kütz. (criptococose).

Outros fungos causam micoses superficiais, como por exemplo Microsporum Gruby (dermatose), Candida Berkhout (candidíase) e Aspergillus fumigatus Fresen (aspergilose).

Além do parasitismo, a simples presença de esporos no ar pode causar alergias ao homem.

Alguns bolores produzem metabólitos secundários como toxinas (aflotoxinas) em cereais mal estocados, podendo contaminar aves e mamíferos domésticos pelo consumo de rações, ou diretamente o homem.

As aflotoxinas são toxinas potentes e cancerígenas, causando distúrbios digestivos e até a morte.

Outros fungos produzem alcaloides tóxicos e/ou alucinógenos.

O papel do fungo na alimentação

Sim, você não leu errado, fungos estão presentes em vários tipos de alimentos que consumimos.

A espécie mais importante ou mais comum utilizada é a levedura (Saccharomyces cerevisiae Meyen).

Essa espécie está envolvida em processos fermentativos responsáveis pela produção do álcool etílico, cerveja, vinho, no processamento e aromatização de pães, entre outros.

Há também outras espécies envolvidas na produção industrial de glicerina, vitaminas e ácidos orgânicos, como o ácido cítrico, que também ocorre nas frutas cítricas, e o ácido giberélico, um hormônio vegetal.

A fabricação e aromatização de muitos tipos de queijos (Camembert, Roquefort e Gorgonzola) são acontecem por causa do fungo Penicillium roqueforti Thom

Muitos fungos podem ser consumidos diretamente como alimento, apresentando grande interesse por serem muito nutritivos como por exemplo,  o champignon  (gênero Agaricus)

Além dos alimentos, os fungos também são muito importantes na fabricação de medicamentos.

O mais importante deles, os antibióticos, principalmente a penicilina, produto derivado do gênero Penicillium Link.

Algumas espécies como Saccharomyces cerevisiae tem sido estudada como organismo modelo para compreensão de inúmeros processos na área da genética, fisiologia, bioquímica e biologia molecular.