Você já ouviu falar em pegada ecológica?

A caminhada do homem pela Terra deixa “rastros”, “pegadas”.

Que podem ser maiores ou menores, dependendo de como ele utiliza os recursos naturais.

O conceito de pegada ecológica foi criado nos anos 90 pelo suíço Mathis Wackernagel.

Também chamada de Ecological Footprint (EF), a pegada ecológica é uma ferramenta de avaliação.

Ela representa o espaço necessário para sustentar um determinado sistema ou unidade.

Trata-se de um instrumento que contabiliza os fluxos de matéria e energia que entram e saem de um sistema econômico.

Está relacionada ao conceito de capacidade de carga.

Ou seja, pode ser entendido como “a habilidade da terra suportar” (“the ability of the earth to support“).

Portanto, a pegada ecológica representa a quantidade de hectares necessários para sustentar a vida de cada pessoa no mundo.

Ou seja, quantos hectares (lembrando que 1 hectare equivale a 10.000 metros quadrados) uma pessoa necessita para produzir o que consome por ano?

A pegada ecológica não é uma medida exata, mas uma estimativa.

E essa estimativa nos mostra até que ponto a nossa forma de viver está de acordo com a capacidade de o planeta oferecer, renovar seus recursos naturais e absorver os resíduos que geramos por muitos e muitos anos.

Os princípios da pegada ecológica

A pegada ecológica pode ser fundamentada em três princípios: Sustentabilidade, equidade, e overshoot.

Principio da Sustentabilidade

A sustentabilidade visa a satisfazer as necessidades humanas no presente e futuro, sem destruir nosso único meio: a capacidade da natureza em regenerar e absorver os resíduos.

Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material.

Isso sem agredir o meio ambiente, usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro.

Seguindo estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável.

Para o avanço em direção à sustentabilidade é preciso que a carga humana esteja em consonância com a capacidade de suporte do ecossistema.

Em outras palavras, é preciso que se adquiram os níveis de consumo, estilos de vida, utilização dos recursos e assimilação dos resíduos com as condições ecológicas.

A fim de que não se consumam os produtos e os utilize, mais rapidamente do que possam ser regenerados e ou absorvidos.

A sustentabilidade também está intimamente ligada ao princípio da equidade.

O que denota uma relação de interdependência entre os dois, pois não há meios de haver sustentabilidade sem o princípio da igualdade concernente ao uso que se faz do meio ambiente por todos no cenário mundial.

Principio da Equidade

A pegada ecológica é um instrumento para direcionar essa questão da sustentabilidade, em três ângulos diferentes:

  • Equidade entre gerações ao longo do tempo

    A pegada mensura a extensão com que a humanidade usa os recursos naturais em relação à capacidade de regeneração da natureza.

  • Equidade nacional e internacional em tempos atuais, dentro e entre nações

    A pegada mostra quem consome quanto.

  • Equidade entre espécies

    A pegada mostra o quanto a humanidade domina a biosfera à custa de outras espécies. 

Chegar à equidade apenas por meio do crescimento econômico quantitativo é impossível, dado que a biosfera é limitada.

Por sua vez, a pegada indica que já estamos excedendo esse limite.

E que uma extensão futura das atividades humanas liquidará o capital natural o qual hoje dependemos e de que as futuras gerações dependerão.

Com a aceleração do tempo capitalista, há o descompasso entre o tempo de regeneração e formação da biosfera e o tempo de consumo da transformação em produtos não recicláveis ou em alta entropia por parte do sistema econômico.

Assim os recursos marítimos e florestais, a terra para agricultura, o ar puro e a água, estão se transformado em recursos não renováveis.

Notando-se a contínua redução dos seus estoques, até um possível esgotamento.

A destruição dos recursos está crescendo e é diretamente ligada aos grupos afluentes que os consomem excessivamente.

As escolhas individuais são necessárias para se reduzir a pegada da humanidade, mas não são suficientes.

É preciso salientar a necessidade de se fazer reais mudanças nos padrões de consumo e nos estilos de vida impostos por modelo de desenvolvimento econômico dos países desenvolvidos, que se fundamenta no lucro incessante.

Nesse sentido, a pegada ecológica reforça as relações da sustentabilidade com a equidade.

Torna explícitos os impactos ecológicos das atividades antrópicas.

E ajuda nas tomadas de decisões de modo a beneficiar à sociedade e o meio ambiente.

Overshoot

Durante a maior parte da história, a humanidade foi capaz de viver às custas dos juros da natureza.

Ou seja, consumindo recursos e produzindo dióxido de carbono a uma taxa menor do que o planeta era capaz de regenerar e reabsorver a cada ano.

Mas há cerca de três décadas, cruzamos um limiar crítico e a taxa de demanda humana por serviços ecológicos passou a superar a taxa em que a natureza podia fornecê-los.

Esta lacuna entre oferta e demanda – conhecida como overshoot ecológico – tem crescido a cada ano.

Agora é preciso um ano e seis meses para regenerar os recursos que a humanidade requer em um ano.

A mudança climática é talvez o sinal mais importante do nosso gasto ecológico excessivo.

São desses serviços ou benefícios que dependemos.

E se consumirmos além dos seus limites, estaremos caminhando para o overshoot, pois a natureza não poderá mais se regenerar.

Mas o que é considerado para calcular sua pegada ecológica?

A pegada ecológica de um país, de uma cidade ou de uma pessoa, corresponde ao tamanho das áreas produtivas de terra e de mar, necessárias para gerar produtos, bens e serviços que sustentam determinados estilos de vida.

Em outras palavras, a pegada ecológica é uma forma de traduzir, em hectares (ha), a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade “utiliza”, em média, para se sustentar.

Para calcular as pegadas foi preciso estudar os vários tipos de territórios produtivos (agrícola, pastagens, oceanos, florestas, áreas construídas) e as diversas formas de consumo (alimentação, habitação, energia, bens e serviços, transporte e outros).

As tecnologias usadas, os tamanhos das populações e outros dados, também entraram na conta.

Cada tipo de consumo é convertido, por meio de tabelas específicas, em uma área medida em hectares.

Além disso, é preciso incluir as áreas usadas para receber os detritos e resíduos gerados e reservar uma quantidade de terra e água para a própria natureza.

Ou seja, para os animais, as plantas e os ecossistemas onde vivem, garantindo a manutenção da biodiversidade.

Dessa forma a pegada ecológica é composta por:

  • Terra bioprodutiva

Terra para colheita, pastoreio, corte de madeira e outras atividades de grande impacto.

  • Mar bioprodutivo 

Área necessária para pesca e extrativismo.

  • Terra de energia

Área de florestas e mar necessária para a absorção de emissões de carbono.

  • Terra construída

Área para casas, construções, estradas e infra-estrutura.

  • Terra de Biodiversidade

Áreas de terra e água destinadas à preservação da biodiversidade.

De modo geral, sociedades altamente industrializadas, ou seus cidadãos, “usam” mais espaços do que os membros de culturas ou sociedades menos industrializadas.

Suas pegadas são maiores pois, ao utilizarem recursos de todas as partes do mundo, afetam locais cada vez mais distantes.

Explorando essas áreas ou causando impactos por conta da geração de resíduos.

Como a produção de bens e consumo tem aumentado significativamente, o espaço físico terrestre disponível já não é suficiente para nos sustentar no elevado padrão atual.

Para assegurar a existência das condições favoráveis à vida precisamos viver de acordo com a “capacidade” do planeta.

Ou seja, de acordo com o que a Terra pode fornecer e não com o que gostaríamos que ela fornecesse.

Avaliar até que ponto o nosso impacto já ultrapassou o limite é essencial, pois só assim poderemos saber se vivemos de forma sustentável.

Você pode calcular sua pegada aqui ou aqui.