A dengue é a principal arbovirose que acomete o ser humano.

Estima-se que todos os anos ocorram cinquenta milhões de infecções em todo o mundo.

E dentre as medidas preconizadas para a prevenção e controle do mosquito, incluem-se as ações de educação em saúde no espaço escolar.

O conteúdo sobre dengue presente nos livros didáticos de ciências e biologia, quase sem exceção, reproduzem aspectos de como reconhecer e prevenir.

Mas isso é o suficiente?

Como falar sobre a dengue nas aulas de biologia sem ficar limitado ao que se divulga na mídia?

Cabe apenas falar da profilaxia do vírus?

Separamos alguns tópicos para explorar o assunto.

1 –  Biologia do vírus

O vírus da dengue não é um vírus de contágio por contato, é um arbovírus.

Ou seja, um vírus transmitidos por artrópodes (Arthropod-borne vírus).

São assim designados não somente pela sua veiculação através de artrópodes.

Mas, principalmente, pelo fato de parte de seu ciclo replicativo ocorrer nos insetos.

São transmitidos aos seres humanos e outros animais pela picada de artrópodes hematófagos, no caso da dengue, o Aedes aegypti.

O vírus causador da dengue, é um vírus do tipo 1, com RNA de fita simples, pertencente à família Faviviridae do gênero Flavivirus sp.

São classificados em quatro sorotipos distintos DENV (1, 2, 3 e 4) sendo todos capazes de causar doença, e caracterizados como distintos entre si.

A partícula dos flavivírus mede de 40 a 60 nm de diâmetro, possui um capsídeo proteico (C) com simetria icosaédrica, envolvido por um envelope lipídico onde estão inseridas as proteínas de membrana (M) e espículas de natureza glicoproteica (E).

Essas particularidades permitem que uma mesma pessoa possa ter dengue até 4 vezes, cada vez com um tipo de vírus diferente.

Assim, é possível discutir com os alunos:

  • Como as especificidades do vírus da dengue o tornam tão eficientes em proliferar a doença?
  • É possível o vírus da dengue causar uma pandemia?
  • Quais as diferenças entre os tipos de vírus?
  • Por que não têm remédios específicos para a dengue?

2- Defesa do corpo

As primeiras células infectadas após a inoculação viral pela picada do mosquito são, provavelmente, as células dendríticas da pele.

Após a replicação inicial e migração para os linfonodos, os vírus aparecem na corrente sanguínea (viremia) durante a fase febril aguda, geralmente por três a cinco dias.

A gênese dos sintomas da dengue ainda não é bem esclarecida.

Porém considera-se que a liberação de citocinas, como resultado da infecção das células dendríticas, macrófagos e a ativação de linfócitos TCD4+ e TCD8+, desempenha um papel importante.

Além disso, a liberação de interferon pelos linfócitos T pode estar intimamente relacionada à queda na contagem de plaquetas, pela supressão da atividade da medula óssea, o que gera sintomas como as petéquias espalhadas pelo corpo.

Da corrente sanguínea, os vírus são disseminados a órgãos como fígado, baço, nódulos linfáticos, medula óssea, podendo atingir o pulmão, coração e trato gastrointestinal.

Dessa forma, é possível discutir com os alunos:

  • Por que uma mesma pessoa pode ter dengue mais de uma vez, e de tipos diferentes?
  • O que acontece no corpo com a dengue hemorrágica?
  • Por que a reação do corpo ao vírus provoca os sintomas conhecidos da dengue?

3- O vetor e o meio ambiente

dengue

O mosquito da dengue é um dos vetores mais difíceis de controlar.

Um dos motivos, é que se adaptou super bem ao ambiente urbano onde, além de humanos, não falta água parada, onde as larvas de seus ovos se desenvolvem.

Para que haja água parada, não basta apenas que as pessoas tenham o maior cuidado em suas casas.

A gestão do lixo urbano é muito importante porque, quando chove, qualquer potinho de iogurte jogado no chão é um bom lugar para as larvas se desenvolverem numa boa.

Assim, alguns aspectos sobre isso para discutir com os alunos são:

  • Por que a água é necessária para o ciclo de vida do mosquito?
  • Que animais são predadores naturais do transmissor da dengue? Onde eles estão?
  • Qual o papel ecológico que os mosquitos desempenham?
  • Que outros aspectos ambientais favorecem o aumento do mosquito da dengue?

Apesar de causador de graves doenças, os mosquitos da dengue também têm sua importância ambiental.

São polinizares, uma vez que os machos se alimentam de seiva e somente as fêmeas picam, pois precisam do sangue para produzir seus ovos.

Mosquitos são o banquete de morcegos, sapos, lagartixas e outros animais que se alimentam de insetos.

Outro ponto que favorece o mosquito Aedes aegypti é  aquecimento global.

Um estudo da University of Pittsburgh Schools of the Health Sciences, alertou que a dengue pode se espalhar no mesmo passo do aquecimento dos oceanos, aspecto que ocorre há alguns anos, mas não em todos do El Niño.

4- Inseto empreendedor

O Aedes aegypti com o decorrer do tempo, se adaptaram a depositar seus ovos em volumes mínimos de água e nem tão limpas como antes.

Passaram a picar durante o dia (antes eram noturnos) e se tornaram resistentes aos inseticidas.

Além disso, têm uma inteligência fora do comum no quesito achar vítimas.

Têm uma super visão, veem a presa de 5 a 10 metros de distância, sentem o cheirinho do homem, através da emissão do CO2 na respiração a mais de 10 metros de distância e sentem o calor das presas ao chegarem mais perto delas, a 20 cm de distância.

Por todas essas habilidades, o mosquito da dengue se tornaram grandes “empreendedores”.

Podem ser vetores de quatro doenças: Dengue, zika vírus, chikungunya e febre amarela.

Alguns aspectos para discutir com os alunos são:

  • Por que os mosquitos da dengue são tão bem sucedidos na reprodução?
  • Quais as maneiras de acabar com a dengue? Solicite aos alunos que escrevam todas as ideias (já conhecidas e também inventadas por eles) de combater a dengue.

5- Vacina da dengue

O Instituto Butantan em conjunto com o NIH (National Institutes of Health), o Instituto Adolfo Lutz, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) – Instituto Central e Instituto da Criança, e o fomento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), desenvolve a pesquisa da vacina dengue.

Até a vacina estar disponível a população, ela passa por várias fases de pesquisa e de procedimentos de segurança.

Na fase I o objetivo é demonstrar que a vacina está apta a ser utilizada em humanos.

Em seguida, na fase II, observa-se a capacidade da vacina em estimular o sistema imunológico para a produção de anticorpos.

Por fim, na fase III, busca-se a comprovação de que a pessoa vacinada está protegida contra a infecção.

Na primeira, uma pequena produção de vacina com os 4 vírus atenuados foi feita nos EUA para avaliar sua segurança nas pessoas.

E agora inicia a fase III de ensaios clínicos, que, a se confirmar os resultados extremamente positivos das fases anteriores, será uma contribuição de grande vulto para a saúde pública.

Espera-se que a vacina da dengue esteja disponível para uso em 2019.

Você pode discutir com os alunos:

  • Como se produz uma vacina?
  • Quais as dificuldades em produzir uma vacina para um vírus de quatro tipos?
  • Como a vacina pode mudar o rumo da epidemia que é a dengue?

6 – Biotecnologia

Uma das inúmeras tentativas de conter o mosquito Aedes aegypti e a dengue é o uso da biotecnologia para criar um mosquito transgênico e mosquitos infectados com  bactérias.

O mosquito transgênico, consiste na utilização de mosquitos machos de uma linhagem transgênica para combater o mosquito transmissor do vírus dengue.

Cientistas introduziram um gene (unidades de características hereditárias) no mosquito Aedes aegypti, que é responsável pela produção de uma proteína.

Em altas doses, essa proteína impossibilita o desenvolvimento da prole (filhos) desses mosquitos, ou seja, eles não serão capazes de chegar à fase adulta, e, por isso, não conseguirão transmitir a doença.

Outra forma é por meio da exposição dos mosquitos machos do Aedes aegypti  à radiação eletromagnética ionizante de raios gama.

A radiação danifica aleatoriamente o material genético contido no sêmen do inseto, gerando infertilidade.

Quando os machos irradiados acasalam com as fêmeas, os filhotes gerados são ovos que não vingam.

Contaminação por bactérias

Além disso, cientistas estudam também a possibilidade de infectar o Aedes aegypti com bactérias para evitar a transmissão de vírus.

Cientistas na Austrália descobriram que mosquitos infectados com uma bactéria chamada Wolbachia se tornam imunes à infecções por esses vírus.

A ideia dos pesquisadores é inserir, em laboratório, a Wolbachia no organismos de fêmeas e soltá-las no ambiente.

Os mosquitos não poderão transmitir nenhum desses vírus que hoje nos preocupam e seus filhotes também não.

Com o tempo, a quantidade de mosquitos inofensivos solta na natureza tende a crescer e, espera-se, os casos de contágio por dengue, zika e chikungunya diminuirão.

  • Por que dizer “um mosquito contra a dengue”?
  • Quais os procedimentos usados para “criar” o mosquito modificado?
  • O que estes genes poderão fazer no mosquito Aedes aegypti?
  • Qual a finalidade dessa modificação?
  • Ecologicamente falando, o que vai acontecer com a população de mosquitos Aedes aegypti neste local?
  • Este é um procedimento que vai acabar com a dengue? Quais os prós e contras desta pesquisa?

7 – Jogos

Outras formas de abordagens podem ser por meio de jogos.

Como por exemplo, esses criados pela fio cruz, disponível para impressão aqui, o quiz disponível aqui, e atividades sugeridas aqui.