As abelhas fornecem vários produtos como por exemplo o mel, própolis, pólen, geleia real.

E, principalmente,  o serviço da polinização.

A polinização é fundamental na biodiversidade de plantas e na agricultura.

Já que um terço dos alimentos que comemos provém da polinização das abelhas.

Mas, quanto vale o serviço prestado pelos polinizadores e mais especificamente pelas abelhas?

E se esses prestadores de serviço desaparecessem?

Qual seria o impacto na agricultura e nos ecossistemas?

Polinização

Certamente você já ouviu falar em polinização, mas você sabe o que isso significa?

A polinização é o ato de condução dos grãos de pólen de aparelho reprodutor masculino para o feminino em gimnospermas e angiospermas.

Ou seja, em vegetais superiores.

A polinização é um processo essencial para a reprodução sexuada.

E também para a manutenção da variabilidade genética das plantas.

E este pode ser apontado como o mais importante benefício das abelhas para a humanidade.

No entanto, outros agentes polinizadores também colaboram.

Dessa forma, cada característica floral é geralmente interpretada como adaptações para atrair e explorar certos tipos de polinizadores e excluir outros.

E o conjunto destas características compõe o que chamamos de síndrome de polinização.

Essas síndromes podem ser classificadas como abiótica quando a polinização é feita pela água e pelo vento e biótica quando a polinização é realiza da por besouros, moscas, vespas, formigas, abelhas, borboletas, mariposas, pássaros e morcegos.

Assim cada tipo de polinização recebe uma terminação específica, como podemos ver a seguir

 Síndrome Agente Polinizador Características Florais
Cantarofilia
Besouros (ap.bucal mastigador)

Flores polinizadas pelos besouros são muito claras, brancas ou pouco coloridas.

Além disso, as pétalas/sépalas carnosas e abertas em forma de bacia.

Possuem muito pólen porém não tem néctar.

E as flores exalam odor forte e variado como por exemplo frutal, acre ou em decomposição.

Psicofilia
Borboletas (ap. bucal sugador)

As borboletas que são nectarívoras se alimentam de néctar e/ou pólen.

Assim, o néctar fica acessível apenas as peças bucais sugadoras e longas, formando um tubo aspirante espiralado (probóscide).

As flores são de cores vibrantes: vermelhas, amarelas, alaranjadas ou azuis, tubulares (tubos longos e estreitos) ou em calcar, direcionadas para cima

Além disso são antese (de abertura diurna) e possuem odor fraco, bem suave.

Falenofilia
Mariposas (ap. bucal sugador)

As flores têm o néctar escondido e as mariposas usam a espirotromba sem se apoiar na flor.

Assim as flores são de cores claras, esmaecidas e pendentes para baixo, de aroma adocicado exalado ao anoitecer (antese noturna ou crespuscular).

Miiofilia
Moscas (ap. bucal sugador)

As flores polinizadas por moscas são pouco atrativas, apresentam cores claras, marrom ou púrpura mas possuem um odor forte, doce, fétido, característico.

Além disso, o néctar é de fácil acesso.

Melitofilia
Abelhas (ap. bucal
lambedor)

 Procuram néctar e pólen, e quase sempre são atraídas por flores chamativas, amarelas, azuis, lilás e com cheiro adocicado.

As corolas são abertas e tubulares e refletem luz ultravioleta.

Além disso, utilizam o estigma da flor feminina como “pista de pouso”.

Ornitofilia
Aves (bico forte, grande e largo)

Os beija-flores são as aves mais especializadas na polinização, mas não entram em contato com o tubo floral.

São atraídos por angiospermas vistosas com cores vibrantes, principalmente vermelhas e alaranjadas, aos quais têm abundância de néctar, ausência de odor, corolas tubulares e nectário distante do estigma e das anteras.

Quiropterofilia
Morcegos (língua comprida)

Se alimentam de néctar abundante, alcançando o fundo dos tubos florais, e preferem flores claras, brancas ou amarelo-claro, que facilitam a visualização, que possuem odor forte característico: muito perfumadas e que duram uma noite.

 

Além de todos esses agente bióticos temos também as síndromes abióticas.

Que são a Nemofilia (ventos) que ocorrem em flores que produzem muito pólen, não tem aroma e nem néctar e as cores são muito claras, predominando tons verdes e cremes.

E a hidrofilia (água) que ocorre quando o pólen é transportado sob a água ou flutua.

Que normalmente ocorre em flores desprovidas de cores, aromas e néctar, principalmente em plantas aquáticas.

Mas se tem tantos polinizadores, por que as abelhas são tão importantes?

Parte dos benefícios da polinização pelas abelhas pode ser medido da produção de frutos.

Ou seja, pelo aumento no número de vagens, frutos vingados, número de grãos por vagem, melhora na qualidade dos frutos, e uniformidade no amadurecimento dos frutos.

Assim, a ausência deste serviço realizado pelas abelhas pode afetar negativamente a reprodução sexuada.

E, consequentemente, a diversidade genética das plantas.

Além de comprometer a produção de alimentos e produtos relacionados (KLEIN et al., 2007).

A desordem do Colapso de colônias (CCD) de Apis mellifera L.

No final do ano de 2006, a apicultura americana foi alarmada com a Desordem do Colapso das Colônias (CCD) de Apis mellifera.

Milhares de colônias foram dizimadas por todo os EUA.

E o principal prejuízo foram perdas consideráveis para a agricultura em função da falta de polinizadores.

Mas o que é Desordem do colapso das colônias?

O CCD é caracterizado pela perda repentina da população de abelhas adultas.

Ou seja, poucas ou nenhuma abelha adulta morta dentro ou fora da colônia.

Além da presença de crias operculadas (coberta por uma cúpula de cera, sob a qual acontecerá a metamorfose da abelha) e de pequenos agrupamentos de abelhas jovens, onde pode estar a rainha.

Colônias afetadas não apresentam evidências de traça da cera.

E frequentemente contém reservas de alimentos que não são saqueadas.

As consequências desse colapso refletem em perdas anuais da ordem de 30% nos EUA, preocupando a indústria de polinização americana.

E até o momento inúmeras indicações como agente causador tem sido apontadas, mas nenhuma ainda confirmada.

Já em outros países, como Espanha, o colapso de colônias tem sido atribuído ao microsporídeo Nosema ceranae.

Acredita-se que várias situações podem estar associadas com o fenômeno.

E o que causa o desparecimento das abelhas?

Dentre as prováveis causas para o desaparecimento das abelhas estão:

  • As ondas magnéticas dos aparelhos celulares interferindo na orientação das abelhas.
  • Outra possível causa é como foi feito o manejo das colônias em relação à gestão do estresse.
  • Ou a baixa variabilidade genética das rainhas.
  • Também o uso de produtos químicos no controle de pragas nas colônias de abelhas
  • Além de toxinas químicas presentes no meio ambiente
  • E do ácaro Varroa destructor e patógenos associados
  • Também a desnutrição das abelhas por conta das colônias serem direcionadas para polinização de monoculturas.

    Ou seja, tem acesso a um único tipo de pólen de cada vez.

  • Pragas e patógenos recém-descobertos ou aumento de virulência de patógenos existentes
  • Interações entre duas ou mais das hipóteses acima e
  • Inseticidas

Várias explicações de perdas de abelhas têm sido propostas (STOKSTAD, 2007), mas até agora há pouco consenso sobre qual explicação, ou combinações de explicações, são responsáveis para o declínio das abelhas.

O que podemos fazer?

É fundamental conhecer as causas do problema, e também as formas de ajudar a combatê-lo.

A proteção das abelhas é um tema que diz respeito a todos – e está de volta a mídia.

Pois sua importância se manifesta em 1/3 de todos os alimentos que chegam às nossas mesas.

E também no equilíbrio de ecossistemas, na manutenção de matas e florestas, além da preservação da biodiversidade.

Individualmente podemos:

plantar e evitar retirada de plantas de espécies da flora apícola;

flores com pólen e néctar fornecem o alimento natural das abelhas;

não utilizar pesticidas tóxicos às abelhas, particularmente os sistêmicos (neonicotinoides);

dar preferência ao controle biológico de pragas.

Mais informações e pesquisas sobre abelhas, biodiversidade e polinização, podem ser encontradas no Laboratório de Abelhas da Universidade de São Paulo (BEELAB) e na rede de informações sobre diversidade brasileira em abelhas (WEBBEE).

O projeto BEE OR NOT TO BE também vale a visita.

Desde 2013 visa conscientizar sobre importância destes polinizadores e alertar para os riscos de seu declínio.